quarta-feira, 28 de novembro de 2018

MATEUS 6


MATEUS 6


Tendo introduzido Seus discípulos a Deus nesta nova luz no final de Mateus 5, notamos que todo o ensinamento em Mateus 6 está relacionado com isso. A expressão “vosso pai”, com ligeiras variações, ocorre pelo menos doze vezes. O ensino se divide em quatro seções: esmola (1-4), oração (5-15), jejum (16-18), posses terrenas e as coisas necessárias à vida (19-34). Todas as quatro coisas tocaram a vida prática do judeu em muitos pontos, e sua tendência e hábito era se ocupar das três primeiras de uma maneira técnica e superficial, e colocar toda a ênfase e prestar toda a atenção ao quarto item. O Senhor Jesus coloca todos sob a luz que Suas palavras anteriores haviam derramado. No capítulo 5, Ele lhes mostrara um Deus que lida com os movimentos interiores do coração tanto quanto com ações exteriores, e ainda assim que Deus deve ser conhecido como um Pai celestial. Ainda notamos como Ele repete: “Eu vos digo”. Ele não ensina como os escribas fizeram, baseando suas afirmações nas tradições dos antigos, mas temos que aceitar o que Ele diz, apenas porque foi Ele Quem falou.
Se a tradição nos governa, podemos facilmente entrar na mesma posição na qual os judeus foram encontrados em relação às suas esmolas, suas orações e seus jejuns. Para eles, tudo se tornara uma questão de observância exterior, como atendendo aos olhos e ouvidos dos homens. Se nós, por outro lado, elevarmos nossos pensamentos para o Pai nos céus, Quem tem uma íntima preocupação conosco, tudo deve se tornar real e vital, e ser feito para os Seus ouvidos e os Seus olhos. Três vezes o Senhor diz do mero formalista: “Já receberam seu galardão [recompensa – ARA]”. Sua recompensa é a aprovação e louvor de seus semelhantes. Isso eles têm; é tudo no presente e não há mais nada por vir. Aquele que dá ou ora ou jejua desconhecido dos homens, mas conhecido por Deus, será recompensado publicamente no dia vindouro.
Quanto à oração, Ele ensina não apenas privacidade, mas brevidade, aquilo que se assenta no âmago da realidade. Um homem, que pede com intensa realidade e sinceridade, inevitavelmente vai direto ao ponto com o menor número de palavras. Ele possivelmente não vagará no labirinto de circunlocuções[1]. Os versículos 9-13 nos dão a oração modelo, exatamente adequada aos discípulos em suas circunstâncias. Existem seis petições. As três primeiras têm a ver com Deus; Seu nome, Seu reino, Sua vontade. As três seguintes têm a ver conosco; nosso pão, nossas dívidas, nossa libertação. O Pai celestial e Suas reivindicações devem ser os primeiros, e as nossas necessidades em segundo lugar. A bênção dos homens na Terra depende de Sua vontade ser feita na Terra, e isso só acontecerá quando o Seu reino for estabelecido.
O perdão mencionado nos versículos 14 e 15 está relacionado com as dívidas do versículo 12. No santo governo do Pai celestial com Seus filhos, o espírito não perdoador encontra o Seu castigo. Se alguém cometer uma ofensa contra nós e nos recusarmos a perdoar, perderemos o perdão governamental de Deus. Não se trata aqui de perdão por toda a eternidade, visto que aqueles a quem o Senhor falava eram discípulos, com quem aquela grande questão já estava resolvida.
Palavras muito esquadrinhadoras quanto às posses terrenas são faladas em seguida. Nenhuma tendência é mais profunda com todos os homens do que perseguir, abraçar e ajuntar tesouros na Terra, embora se deteriorem sob a ação de forças naturais, assim como a ação de homens violentos. Se realmente conhecermos o Pai nos céus, encontraremos nosso tesouro no céu e lá nosso coração estará; e temos apenas que ter o olho simples para ver isso e ver claramente todo o mais. Então também nossos corpos se tornam cheios de luz: isto é, nos tornamos nós mesmos luminosos. Seremos dominados por Deus ou por mamom, pois não podemos servir a dois senhores. Deus e mamom são totalmente opostos.
Ao servir a Deus, que é de fato um Pai celestial, ficamos sob Seu cuidado atento e bondoso. Ele conhece todas as nossas necessidades e Se preocupa com elas. Somos impotentes; incapazes de acrescentar um côvado à nossa estatura, ou de nos vestir como a erva do campo. Nosso Pai tem sabedoria e poder infinitos, e cuida das mais humildes criaturas de Sua mão: podemos, portanto, ter absoluta confiança em Seu amoroso cuidado por nós. Assim, devemos estar livres de toda ansiedade de cuidado. Os homens do mundo estão se agarrando aos tesouros deste mundo que se deterioram tão rapidamente, e eles estão cheios de cuidado quanto à sua preservação e uso. Devemos estar descansando sob o cuidado e amor de nosso Pai e, portanto, livres da ansiedade.
Agora isso é principalmente negativo. Devemos estar livres da ansiedade de cuidado que enche tantos corações; mas isso é para que possamos estar livres para buscar o reino de Deus e para buscá-lo primeiro. Em vez de perscrutar o amanhã com apreensão, devemos nos encher hoje das coisas do reino e esse reino nos guia nos caminhos da justiça.
Este foi o prazer de Deus para os discípulos que seguiram nosso Senhor durante Seus dias na Terra: não é nada menos do que o Seu prazer para nós que O seguimos agora do que Sua obra estar totalmente consumada e ele ter ido para os céus. O espírito que Ele inculcou foi muito estranho à religião do fariseu de Seus dias, assim como também é estranho à religião exterior e mundana de hoje.


[1] N. do T.: Circunlocuções significa o uso de muitas ou excessivas palavras para exprimir algo de modo indireto, ou por alusões ou referências vagas; fala ou escrita em que se rodeia um assunto, sem ir diretamente ao ponto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário