MATEUS 3


O terceiro capítulo apresenta João Batista sem quaisquer preliminares quanto ao seu nascimento ou origem. Ele cumpriu a profecia de Isaías; ele pregou no deserto, longe do habitat dos homens; em roupas e alimentos, estava separado dos costumes dos homens; Seu tema era arrependimento, em vista da proximidade do reino dos céus. Foi um ministério muito singular. Que outro pregador escolheu um deserto como a esfera geográfica de seu ministério? Filipe, o evangelista, foi de fato ao deserto do sul para encontrar um indivíduo especial; mas o poder de Deus foi tal com João que as multidões se reuniram a ele e foram levadas ao seu batismo, confessando seus pecados.
Neste evangelho há uma menção frequente do “reino dos céus” e que, pela primeira vez, estava aqui. Nenhuma explicação é oferecida por Mateus, nem ele registra qualquer explicação sendo oferecida por João; a razão é, sem dúvida, que a vinda de um dia quando “o Deus do céu” deveria estabelecer um reino, e todos devem ver que “o céu reina [os céus dominam – TB], havia sido previsto no livro de Daniel. Consequentemente, o termo não seria desconhecido para seus ouvintes ou para qualquer leitor judeu. O mesmo profeta teve uma visão do Filho do Homem vindo com as nuvens do céu e tomando o reino, e os santos possuindo-o com Ele. Agora o reino estava à mão na medida em que “Jesus Cristo, Filho de Davi”, foi achado entre os homens.
Quando há uma obra genuína e poderosa de Deus, os homens não gostam de se afastar dela, especialmente se eles são líderes religiosos; consequentemente, encontramos fariseus e saduceus vindo ao batismo de João. Ele os encontrou, no entanto, com uma visão profética. Ele os desmascarou como tendo as características das víboras, e os advertiu que a ira jazia diante deles. João sabia que eles se orgulhariam de ser a própria sucessão abraâmica, então derrubou o suporte onde se apoiavam, mostrando que ela não tinha valor diante de Deus. Nada teria valor a não ser o arrependimento, e seu batismo era em vista disso; mas deveria ser genuíno e manifestar-se em frutos que fossem adequados. Tiago, em sua epístola, insiste que a fé, se for real e viva, deve se expressar em obras adequadas. Aqui João exige exatamente a mesma coisa em relação ao arrependimento.
Esses versículos na metade de Mateus 3 nos dão um vislumbre do que estava errado. O verdadeiro Filho de Davi e de Abraão tinha chegado, o reino estava próximo e nenhuma mera conexão com a sucessão com Abraão valeria. Moisés lhes dera a lei: Elias os havia chamado de volta a ela, depois de ter sido abandonada: João simplesmente emitiu um contundente chamado ao arrependimento, o que equivalia a dizer: “Com base na lei você está perdido e nada resta senão para você honestamente se apegar ao arrependimento com humilde tristeza de coração”. Mas, para sua ruína, a grande massa deles não estava preparada para isto.
João também anunciou a vinda daqu’Ele que é Poderoso, e de Quem João era o precursor. Não havia comparação entre eles, e ele confessou seu sentimento dizendo que não estava em condições de sequer levar Suas sandálias dos pés. Ele também contrastou seu próprio batismo com a água e o batismo com o Espírito Santo e fogo. A vinda daqu’Ele Grande exerceria discriminação perfeita, peneirando o trigo do joio. O trigo Ele batizará com o Espírito Santo e o joio com o fogo do julgamento; e as questões serão eternas porque o fogo será inextinguível.
Estas palavras de João devem ter sido tremendamente indagadoras e serão cumpridas quando a era milenar estiver prestes a ser introduzida. Então o Espírito será derramado sobre toda a carne, e não somente o judeu – isto é, sobre todos os que foram redimidos. Por outro lado, os ímpios serão banidos para o fogo eterno, como o final do evangelho de Mateus, no capítulo 25 nos mostrará. Enquanto isso houve um cumprimento antecipado do batismo do Espírito, no estabelecimento da Igreja, como mostra Atos 2. O contexto aqui decisivamente revela que o “fogo” é uma alusão ao julgamento, e não às línguas de fogo no dia de Pentecostes, ou qualquer ação similar de bênção.
Quando Jesus veio para o Seu ministério, Seu primeiro ato foi vir ao batismo de João, apesar da objeção que João expressou. A objeção serviu para revelar o princípio sobre o qual o Senhor estava agindo. Ele estava cumprindo a justiça. Ele não tinha pecados para confessar, mas tendo tomado o lugar do homem, era correto que Ele devesse Se identificar com os piedosos, que estavam, assim, tomando seu verdadeiro lugar diante de Deus. Os homens de Deus nos tempos antigos tinham feito o mesmo, em princípio – Esdras e Daniel, por exemplo – confessando como se fossem seus próprios pecados, dos quais eles tinham pouca participação, embora fossem pecadores. Aqui estava o Sem pecado, e Ele o fez perfeitamente; e para que não houvesse nenhum engano, no exato momento em que Ele fez isto, os céus se abriram sobre Ele – a primeira grande manifestação da Trindade, e a voz do céu declarando que Ele era o Filho amado, em Quem o Pai encontrou todo o Seu deleite. Em forma de pomba, o Espírito desceu sobre aqu’Ele que deve batizar outros com o mesmo Espírito.