segunda-feira, 26 de novembro de 2018

MATEUS 2


MATEUS 2


Os versículos de abertura do capítulo 2 lançam uma luz forte e perscrutadora sobre as condições que prevaleciam naqueles dias entre os judeus encontrados em Jerusalém – os descendentes daqueles que haviam retornado sob Zorobabel, Esdras e Neemias. O Rei dos judeus havia nascido em Belém e ainda por semanas eles não sabiam nada sobre isso. O fato de Herodes, o rei, estar em ignorância, não era de todo surpreendente, pois ele não era israelita, mas um idumeu. Mas dentre todas as pessoas, os principais sacerdotes deveriam estar informados deste grande evento para o qual eles professamente estavam esperando – o nascimento do Messias. Em Lucas 2, encontramos que o evento foi revelado desde o céu, dentro de algumas horas no máximo, a humildes almas que temiam ao Senhor. O salmista nos disse que: “O segredo do Senhor é para os que O temem” (Sl 25:14), e isso é exemplificado nos pastores e outros; mas os líderes religiosos em Jerusalém não estavam entre estes, mas entre os “soberbos” a quem os homens chamavam de “bem-aventurados”. (Ml 3:15-16). Consequentemente, eles estavam em trevas tanto quanto o perverso Herodes.
Mas há algo pior do que isso. Não é de se surpreender, mais uma vez dizemos, que Herodes tenha ficado perturbado quando ouviu a notícia, pois aqui estava aparentemente um rival pretendente ao seu trono. No entanto, lemos que Herodes “perturbou-se, e toda Jerusalém com ele”. Portanto, o advento do Salvador não produziu júbilo, mas confusão entre as próprias pessoas que professavam estar esperando por Ele! Evidentemente, então, algo estava terrivelmente errado, já que era apenas a retratação de seus instintos pervertidos. Eles não O tinham visto; Ele ainda não havia feito nada: eles apenas sentiram que Seu advento significaria a ruína de seus prazeres em vez do cumprimento de suas esperanças.
No entanto, esses homens eram bem versados em suas Escrituras. Eles foram capazes de dar uma resposta rápida e correta à investigação de Herodes, citando Miquéias 5:2. Tinham o conhecimento que incha, e assim não sabiam nada como deveriam conhecê-lo (1 Co 8:1-2), e colocaram seu conhecimento a serviço do adversário. O “grande dragão vermelho” (Ap 12:3-5) do Império Romano, cujo poder foi investido localmente em Herodes, que estava pronto para devorar o “Filho Varão” (TB), e eles estavam prontos para ajudá-lo a fazê-lo. Eles tinham o tipo errado de conhecimento das Escrituras, e servem como um farol de advertência para nós.
A escritura que eles citaram apresenta o Senhor para nós como “O que governará” (ARF). Em Miquéias só Israel está em vista, mas sabemos que o Seu governo será universal; e esta é a terceira maneira pela qual Ele é apresentado a nós. Em JESUS vemos Deus vindo salvar. Em EMANUEL, vemos Deus vindo habitar. No GOVERNADOR, vemos Deus vindo governar. Sempre foi Seu pensamento habitar com os homens, governando tudo de acordo com o Seu prazer, e cumprir aquilo que Ele tinha vindo salvar.
Quando o Menino foi encontrado em Belém, havia o testemunho de que todas as três coisas se cumpririam e, embora Jerusalém fosse ignorante e hostil, havia gentios do oriente atraídos por Seu aparecimento, e eles reconheceram o Rei dos judeus. Será que percebemos o quão terrivelmente eles condenaram os líderes religiosos em Jerusalém? Os pastores de Lucas 2 souberam de Seu nascimento dentro de algumas horas; estes astrônomos do oriente dentro de alguns dias, ou semanas no máximo; enquanto que vários meses devem ter decorrido antes que os sacerdotes e escribas tivessem a menor suspeita do que tinha acontecido. Primeiro por uma estrela e depois por um sonho, Deus falou aos magos, mas aos religiosos de Jerusalém Ele não falou nada, e houve dias em que o sumo sacerdote no meio deles tinha estado em contato com Deus por meio de Urim e o Tumim. Agora Deus estava em silêncio para com eles. Seu estado era como é retratado em Malaquias e provavelmente pior.
Em Herodes vemos um poder inescrupuloso aliado à astúcia. Quando frustrado pela ação dos magos, ele concebeu um ataque assassino sem chances sobre as crianças de Belém. O fato de ele ter fixado o limite de isenção em dois anos indicaria que o período entre o aparecimento da estrela e a chegada dos magos em Jerusalém deve ter sido meses. Sua ação implacável e perversa trouxe o cumprimento de Jeremias 31:15. Se esse versículo for lido em seu contexto, será visto que seu cumprimento final e completo será nos últimos dias, quando Deus finalmente fará cessar o choro de Raquel, trazendo seus filhos de volta da terra do inimigo. No entanto, o que aconteceu em Belém foi o mesmo tipo de coisa em menor escala.
Herodes, no entanto, estava lutando contra Deus, que derrotou seu propósito enviando Seu anjo a José em um sonho, pela segunda vez. O Menino foi levado ao Egito, e assim Oséias 11:1 encontrou um cumprimento notável, e Jesus começou a reviver a história de Israel. Quão facilmente Deus frustrou o desígnio perverso de Herodes e, com a mesma facilidade, não muito depois, Ele lidou com o próprio Herodes. Mateus não desperdiça palavras para descrever seu fim: ele simplesmente nos diz que “morto, porém, Herodes”, pela terceira vez, o anjo do Senhor falou a José em um sonho, instruindo-o a retornar à terra porque a morte havia removido o pretenso assassino.
A primeira intenção de José evidentemente era retornar à Judéia; mas tendo chegado até José a notícia de que Arquelau sucedera seu pai, o medo fez com que hesitasse. Então, pela quarta vez, Deus o instruiu por um sonho. Assim, ele e Maria e o Jovem foram guiados de volta a Nazaré, de onde ele tinha vindo originalmente, como nos diz Lucas. É instrutivo ver como Deus guiou todos esses movimentos iniciais; em parte pelas circunstâncias, como o decreto de Augusto e as notícias sobre Arquelau; e em parte por sonhos. Assim, os esquemas do adversário foram frustrados. O “porteiro” segurou a porta aberta do “curral [aprisco – ARA] para que o verdadeiro Pastor pudesse entrar, apesar de tudo o que Ele poderia fazer. Também as Escrituras foram cumpridas: Jesus não apenas foi trazido do Egito, mas também Se tornou conhecido como o Nazareno.
Nenhum profeta do Velho Testamento predisse que Ele deveria ser chamado “Nazareno”, exatamente nessas palavras, mas mais de um disse que Ele seria desprezado e objeto de reprovação. Assim, no versículo 23, são “os profetas” e não um profeta em particular. Eles disseram que Ele deveria ser um Objeto de desprezo, que no tempo de nosso Senhor foi expresso no cognome, “Nazareno”. Na tradução de Darby – na edição com notas completas – há um comentário esclarecedor sobre este verso, como a frase exata usada em relação ao cumprimento, em contraste com a expressão anterior em Mt 1:22 e Mt 2:17; mostrando a precisão com que as citações do Velho Testamento são feitas. É uma nota que vale a pena ler[1].
Nazareno é o quarto nome dado ao nosso Senhor neste evangelho inicial. Ele é, como vimos, Jesus, Emanuel, Governador; mas Ele também é o Nazareno. Deus pode vir entre os homens para salvar, habitar, governar; mas ai de mim! Ele será “desprezado e rejeitado dos homens” (Is 53:3 – TB)



[1] N. do T.: Nota de rodapé Mt 2:23 – JND: “As passagens ‘que aquilo pudesse ser cumprido’ (cap. 1:22); ‘para que aquilo fosse cumprido’ como aqui; e ‘então foi cumprido’ (cap. 2:17)  nunca são confundidas nas citações do Velho Testamento. A primeira é o objeto da profecia; a segunda, não simplesmente seu objeto, mas um evento que estava dentro do escopo e intenção da profecia; a terceira é meramente um exemplo disso, onde o que aconteceu foi uma ilustração do que estava dito na profecia”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário