segunda-feira, 24 de junho de 2019

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terça-feira, 2 de abril de 2019

MATEUS 28


MATEUS 28


O versículo 1 deste capítulo nos diz que as duas Marias que haviam assistido ao seu sepultamento estavam de volta ao sepulcro imediatamente no dia de Sábado. Elas vieram “quando já despontava o [no crepúsculo do – JND] primeiro dia da semana”. O dia de acordo com a contagem judaica terminava ao pôr do Sol, e devoção delas era tal que assim que o sábado acabou elas estavam em movimento e visitaram a sepultura. Não é fácil juntar os detalhes que os quatro evangelistas nos deram para formar uma narrativa conectada, mas parece que as duas Marias fizeram essa visita especial e depois voltaram ao amanhecer com Salomé e possivelmente outras, levando especiarias para embalsamar. Marcos e Lucas nos falam sobre isso, e devemos julgar que o versículo 5 do nosso capítulo se refere a esta segunda ocasião, de modo que o que está registrado nos versículos 2-4 ocorreu entre as duas visitas. Seja como for, é claro que ao nascer do Sol, no primeiro dia da semana, Cristo estava ressuscitado.
Um terremoto sinalizou Sua morte e um grande terremoto anunciava Sua ressurreição, embora aparentemente localizado, pois estava ligado à descida do anjo do Senhor. As autoridades da Terra selaram o sepulcro, mas uma autoridade imensamente superior quebrou o selo e arremessou a porta de pedra para trás. Na sua presença, os guardas tremeram e foram atingidos pela inconsciência da morte. O sepulcro selado era o desafio de homens audaciosos. Deus aceitou seu desafio, quebrou seu poder e reduziu seus representantes ao nada. O Senhor Jesus havia sido ressuscitado pelo poder de Deus e o sepulcro foi aberto para que os homens pudessem ver que, sem dúvida, Ele não estava lá. O anjo não apenas removeu a pedra, mas sentou-se sobre ela, colocando-se como um selo sobre ela em sua nova posição, para que ninguém a rolasse de volta até que um grande número de testemunhas tivesse visto o túmulo vazio.
Mateus nos fala de um anjo sentado na pedra. Marcos nos fala de um sentado do lado direito, mas dentro do túmulo. Lucas e João falam de dois anjos. No entanto, todos eles nos mostram que, embora as mulheres temessem na presença dos anjos, não eram feridas como os soldados. Elas estavam buscando o Jesus crucificado, então “não temais”, era a palavra para elas. Sua ressurreição foi anunciada e elas foram convidadas a ver o local onde Seu corpo havia jazido, e onde, conforme aprendemos no relato de João, os lençóis de linho estavam todos em seu lugar e intocados, mas dos quais o corpo sagrado havia desaparecido. Era preciso apenas ver o lugar onde Ele estava para se convencer de que o corpo não havia sido levado ou roubado. Um ato sobrenatural havia ocorrido; e elas deviam ir como mensageiras aos discípulos, dizendo-lhes que O encontrassem na Galileia.
Embora cheias de conflitantes emoções de medo e gozo, as mulheres receberam a palavra do anjo com fé e consequentemente partiram em obediência. A obediência de fé foi rapidamente recompensada por uma aparição do próprio Senhor ressuscitado, e isto as trouxe a Seus pés como adoradoras, e as enviou em seu caminho como mensageiras do Senhor e não meramente do anjo. Na ocasião da última ceia, o Senhor designou a Galileia como o ponto de encontro e confirmou-o a elas.
O parágrafo entre parênteses, versículos 11-15, nos fornece um contraste impressionante. Passamos da brilhante cena da ressurreição com gozo, fé, adoração e testemunho, para as densas trevas da descrença com ódio, conspiração, suborno e corrupção, resultando em uma mentira de um tipo tão flagrante que sua falsidade foi completamente exposta diante deles. Se eles estivessem dormindo, como poderiam saber o que havia acontecido? O dinheiro e o amor a ele estão na raiz desse mal específico. Os soldados foram subornados e devemos supor que a persuasão do governador seria alcançada da mesma maneira. Qualquer coisa para impedir que a verdade quanto à ressurreição se espalhasse! Eles perceberam como isso destruiria a causa deles enquanto estabeleceria a Sua, e o diabo, que os movia, percebeu isso muito mais intensamente do que eles. Eles deram apenas trinta moedas de prata a Judas para cercar Sua morte, mas deram muito dinheiro aos soldados, esforçando-se para abafar o fato de Sua ressurreição.
O evangelho termina com os discípulos encontrando o seu Senhor ressuscitado na Galileia e com a comissão que Ele lhes deu ali. Nenhuma menção é feita das várias aparições em Jerusalém ou da ascensão de Betânia. Enquanto este evangelho indica o estabelecimento da Igreja, ele traçou para nós principalmente a transição da apresentação do reino como conectada com o Messias sobre a Terra, como predito pelos profetas, para o reino dos céus em sua forma atual: isto é, de uma forma em mistério enquanto o Rei está oculto nos céus. Jerusalém era o lugar onde eles deveriam receber o Espírito e ser batizados em o corpo, a Igreja, “não muito depois destes dias” (At 1:5); a Galileia era o distrito onde foi encontrada a grande maioria do remanescente piedoso de Israel que, recebendo-O, entrou no reino enquanto a massa do povo o deixou escapar.
Então o Senhor retomou os elos com aquele remanescente em ressurreição, os onze discípulos sendo os membros mais proeminentes dele; e, embora não ouvimos que Ele foi elevado para o céu, mesmo assim Ele os comissionou como se estivesse falando do céu, pois todo poder era Seu, tanto no céu quanto na Terra. Ainda não havia chegado a hora de revelar plenamente a tarefa Cristã de reunir de entre as nações um povo para o Seu nome: os termos aqui são mais gerais. Eles deveriam ir e fazer discípulos e batizá-los, e esta é uma comissão que pode ser assumida pelo remanescente crente de Israel depois que a Igreja se for. Como Israel foi batizado a Moisés, seu líder, assim o discípulo deve ser batizado para o Cristo ressuscitado como estando sob Sua autoridade, e o batismo deve ser em nome de Deus como Ele foi completamente revelado. Não é plural, mas singular – não “em nomes”, mas “em nome” – pois, embora revelada em três Pessoas, a Divindade é uma só.
A palavra final é: “eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”, de modo que, nesta palavra final temos “todo”, não menos do que quatro vezes. Nosso exaltado Senhor exerce todo o poder em ambas as esferas, de modo que nada está além de Seu alcance. Se algo adverso acontecer aos Seus servos, será sob Sua permissão. Todas as nações é a esfera do serviço deles, e não no meio de Israel apenas como antes. Os batizados das nações devem ser ensinados a observar todos os mandamentos e instruções do Senhor, pois os servos devem ser caracterizados pela obediência e também trazer à obediência aqueles que eles alcançarem. Então, todos os dias até o fim, eles podem contar com o apoio e a presença espiritual de seu Mestre.
Tal é a comissão com a qual o evangelho termina. Enquanto nos movemos em direção aos Atos e passamos pelas Epístolas, descobrimos que vêm à luz desdobramentos que nos fornecem a comissão evangélica completa de hoje, mas não perdemos a luz e o benefício do que o Senhor diz aqui. Ainda vamos a todas as nações, batizando no Nome. Ainda temos que ensinar toda a Palavra do Senhor. Todo poder ainda é d’Ele. Sua presença estará conosco todos os dias até o fim dos tempos, não importa o que possa acontecer.

MATEUS 27


MATEUS 27


As cenas de encerramento da vida do Senhor são contadas por Mateus de uma maneira que enfatiza a excessiva culpa dos líderes de Israel. Essa característica foi perceptível durante todo o tempo, e a vemos especialmente em Mateus 23. Os versículos iniciais deste capítulo nos mostram que, embora Sua condenação oficial tivesse que vir de Pilatos, ainda assim o ânimo que O perseguiu até a morte foi encontrado nos líderes.
A sequência da história é quebrada por um parágrafo entre parêntese, dando-nos o miserável fim de Judas. Parece que ele esperava que o Senhor escapasse de Seus adversários e passasse pelo meio deles como havia feito outrora, mas agora, vendo-O condenado e submetendo-Se às suas mãos, estava cheio de remorso e horror pelo que fizera. Não era o genuíno “arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar” (ARA), pois isso anda de mãos dadas com fé. Agora fé era o que lhe faltava, pois se ele a possuísse, ele teria se voltado para seu Mestre como Pedro, que também falhou gravemente. Seus olhos se abriram para o seu pecado e ele o confessou, ao mesmo tempo em que confessava a inocência de Jesus, mas mesmo assim se precipitou da vida para o túmulo de um suicida. O próprio homem que foi o instrumental em entregar o Salvador a Seus inimigos teve que confessar Sua inocência. Deus assim ordenou isto; e é muito impressionante.
O próprio nome, Judas, tornou-se um sinônimo de iniquidade, mas Anás e Caifás eram piores do que ele. O versículo 4 mostra isso. Judas traiu e eles condenaram o sangue inocente. Ele pelo menos tinha algum sentimento de remorso pelo que fizera – o suficiente para levá-lo à destruição própria. Eles não tinham sentimento algum. O que era sangue inocente para eles? Não tinham remorso em derramar, nem tinham medo do Deus que retribui o mal. Eles estavam preparados para “matar os inocentes”, dizendo em seus corações: “Tu não o vingarás” (Sl 10:8, 13 – TB). Se tivessem o menor temor de Deus, nunca teriam dito: “O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”, conforme registrado em nosso capítulo.
Judas nunca desfrutou de suas trinta moedas de prata. Seduzido e finalmente possuído pelo diabo, ele jogou fora tudo por nada. Esse é sempre o fim da história quando pequenos homens néscios tentam fazer uma barganha com o gigante espírito do mal. A prata estava agora novamente nas mãos dos sacerdotes e se tornou a ocasião para eles coroarem seus outros pecados com suprema hipocrisia. Com escrúpulos legalistas, eles não podiam colocá-las no tesouro porque era preço de sangue. Mas quem as tornou assim? Eles mesmos! Então, eles cumpriram a escritura comprando o campo do oleiro. Seu ato tornou-se público e, assim, o campo adquiriu seu nome. A ironia do julgamento governamental divino pode ser discernida no nome, pois aquela terra tem sido um campo de sangue e um local de sepultamento para estrangeiros desde aquele dia; e será ainda em maior medida, e até o dia em que finalmente o Redentor chegará a Sião.
As autoridades religiosas entregaram Jesus ao governador civil, e os versículos 11-26 relatam o que aconteceu diante dele. Quando examinado por Pilatos perante a multidão, Jesus apenas proferiu duas palavras: “Tu dizes”, o equivalente a uma palavra, “Sim”, Ele confessou que realmente era o Rei dos judeus, que era a acusação específica colocada sobre Si na presença do poder romano. Os três evangelhos sinóticos[1] concordam sobre este ponto. João registra outras questões levantadas por Pilatos e respondidas pelo Senhor na relativa privacidade da sala de julgamento, e três vezes ele registra Pilatos saindo dali para o povo. No que diz respeito ao exame público, Jesus “nada respondeu”, pois realmente não havia nada para responder; como Pilatos logo percebeu, embora ele se maravilhasse grandemente. Ele era bem versado nos modos sutis dos judeus e sua acurada mente jurídica logo percebeu que a inveja estava no fundo da acusação. Por outro lado, ele temia a multidão e queria ficar bem com ela.
Por essa causa, Pilatos tinha uma mente estranhamente perturbada. Para condenar Jesus, ele deveria violar seu senso judicial, bem como o sonho e a intuição de sua esposa. Ele estava evidentemente agitado quando o subterfúgio falhou, com o qual ele esperava se livrar do dilema. A multidão acusadora foi persuadida pelos astutos sacerdotes e anciãos. A única figura serena na terrível cena é a do próprio Prisioneiro. Vemos Pilatos virtualmente abdicando de sua função judicial no caso e jogando a responsabilidade sobre o povo. Ele realmente não se absolveu, é claro, mas isso levou a multidão a se colocar sob total responsabilidade pelo sangue de seu Messias. No versículo 25, encontramos a explicação das tristezas que caíram sobre o povo e que continuaram a seguir insistentemente os passos de seus filhos até hoje. Eles ainda precisam enfrentar a grande tribulação antes que as contas sejam acertadas de acordo com o governo de Deus.
Barrabás foi libertado e Jesus condenado a ser crucificado, e nos próximos versículos (27-37) vemos Jesus nas mãos dos soldados romanos. Aqui vemos zombaria vulgar, brutalidade e, finalmente, o ato da crucificação. Para completar Sua humilhação, eles O contaram entre os transgressores colocando um ladrão de cada lado. Não houve justiça, nem misericórdia, nem simples compaixão, estivesse Ele nas mãos das autoridades religiosas, civis ou militares. Judeus e gentios igualmente se condenaram ao condená-Lo.
Os versículos 39-44 mostram-nos como todas as classes se uniram para injuriá-Lo quando Ele estava morrendo na cruz. Criminosos inveterados de maneira profunda tiveram que ouvir palavras severas quando foram condenados à morte, mas não ouvimos falar sequer do mais atroz e depravado sendo ridicularizado em suas agonias de morte. No entanto, foi o que aconteceu quando aqu’Ele que era a personificação de toda a perfeição, divina e humana, estava na cruz. Não houve diferença, exceto no tipo de linguagem utilizada. “os que passaram” eram as pessoas comuns inclinadas aos negócios. “Os principais sacerdotes com os escribas e anciãos” eram as classes superiores. “Os salteadores” também “O mesmo lhe lançaram em rosto”. Eles representavam a mais baixa, a classe criminosa; mas eles apenas seguiram a forma de agir de maneira grosseira e vulgar. Ele era o Filho de Deus e o Rei de Israel: Ele poderia ter mostrado Seu poder tão facilmente quanto Ele o apresentará em julgamento muito em breve. Porém Ele estava exibindo amor divino permanecendo onde os homens O colocaram com mãos perversas e suportando Ele mesmo o julgamento do pecado.
Mateus não desenvolve isso de um modo doutrinário, mas ele passa adiante para registrar as solenes três horas de trevas, perto do final de tal tempo o santo Sofredor proferiu em alta voz o brado que havia sido escrito pelo Espírito de profecia nas palavras iniciais do Salmo 22, 1.000 anos antes. A resposta ao clamor é fornecida no terceiro versículo do Salmo: “Tu és Santo, O que habitas entre os louvores de Israel”. Um Deus santo pode somente habitar entre os louvores de um povo pecador se a expiação for consumada ao ser suportado o julgamento do pecado. O abandono era o resultado inevitável daqu’Ele que não conheceu pecado, sendo feito pecado por nós. Os espectadores não sabiam nada disso: de fato, eles não pareciam capazes de distinguir entre Deus e Elias.
Depois disso, houve, como registrado no versículo 50, um último alto brado, e então a entrega de Seu espírito. As palavras reais desse último brado nos são dadas em parte em João e em parte em Lucas. Foi um alto brado, mostrando que Sua força não estava enfraquecida, e assim a entrega de Seu espírito foi um ato de Sua própria deliberação. Sua morte foi sobrenatural e foi imediatamente seguida por sinais sobrenaturais, indicando sua significância e poder.
O primeiro desses atos foi Deus tocando o véu do templo, que tipificava Sua carne, como Hebreus 10 nos diz. Sob a lei “o caminho do santuário não estava descoberto” (Hb 9 8); mas agora foi feito “manifesto” (ARA), pois a morte de Cristo é a base de nossa aproximação a Deus. O segundo ato tocou a criação material, pois a Terra tremeu, as pedras foram fendidas e os sepulcros abertos. O terceiro tocou os corpos dos santos que dormiam e, após a Sua ressurreição, eles surgiram e apareceram a muitos em Jerusalém. Um testemunho triplo foi assim apresentado da maneira mais impressionante. O primeiro dizia respeito à presença de Deus, mas ocorreu na figura do véu, que era visto apenas pelos olhos dos sacerdotes. O segundo, no reino da natureza, deve ter sido sentido por todos. O terceiro, sem dúvida, era para os olhos dos verdadeiros santos. Além desses sinais, o Sol deixou de brilhar. Houve amplo testemunho da maravilha daquela hora, mesmo assim não lemos de ninguém sendo impressionado, exceto o centurião de plantão e os que estavam com ele. No seu coração foi forjada a convicção de que aqui estava o Filho de Deus – exatamente aquilo que o Seu povo negou, e ainda nega.
Como é frequentemente o caso, quando os homens falham em coragem e devoção, as mulheres suprem a falta. Os discípulos haviam desaparecido, mas muitas mulheres permaneciam em volta da cena, embora estivessem de longe. Um homem, porém, se adiantou e teve a coragem de se identificar com o Cristo morto, pedindo o Seu corpo a Pilatos, e era alguém inesperado. Ele era um discípulo de Jesus, mas até então em oculto, como nos é dito no evangelho de João. Ali estava o homem rico com o novo túmulo, que agia de tal maneira que Isaías 53:9 se cumpriu. Não sabemos nada que José de Arimateia tenha feito a não ser este ato. Deus nunca deixa de ter um servo da Sua vontade que cumpra a Sua Palavra. José nasceu no mundo para cumprir aquela breve afirmação profética e, assim, embora os homens tivessem designado Seu túmulo com os iníquos, Ele estava com os ricos em Sua morte.
As mulheres que foram testemunhas de Sua morte e Seu sepultamento foram caracterizadas pela devoção, mas não pela inteligência. Foram Seus amargos inimigos que lembraram de que Ele havia predito que Ele ressuscitaria dos mortos. Seu ódio aguçou suas memórias e sua sagacidade, e levou a sua delegação a Pilatos com um pedido de precauções especiais a serem tomadas. Suas conquistas em vida eles repudiam, considerando-as como o primeiro erro. Eles temiam que Sua ressurreição fosse estabelecida, percebendo que isso teria efeitos muito mais poderosos. Para sua mente isso seria o último erro e pior que o primeiro. Isso iria inevitavelmente justificá-Lo e condená-los, como eles viram muito bem.
Assim como com José, assim com esses homens, Pilatos estava de ânimo condescendente. O pedido deles foi concedido: a vigilância dos soldados foi estabelecida, mas parece que houve um toque de ironia em suas palavras: “ide, tornai-o seguro, como entendeis” (AIBB). Eles fizeram tudo o que puderam e, como resultado, nada conseguiram a não ser  colocar o fato de Sua ressurreição além de qualquer dúvida plausível quando Ele ressuscitou, e seus elaborados arranjos foram todos postos de lado. Deus transformou sua sabedoria em loucura e fez com que sua conspiração servisse ao Seu próprio propósito e derrubasse o deles.




[1] N. do T.: Evangelhos Sinópticos ou Evangelhos Sinóticos é um termo que designa os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas por conterem uma grande quantidade de histórias em comum, na mesma sequência, e algumas vezes utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras.

MATEUS 26



MATEUS 26



Este capítulo nos traz de volta à história dos últimos dias da vida do Senhor na Terra. Pelos versículos iniciais damos uma espiada no palácio do sumo sacerdote, e percebemos que ele está cheio de astúcias e conselhos de homicídio. Nos versículos 6 e 13, nos voltamos desta iniquidade mais atroz nos lugares mais elevados para observar uma ação de amor e devoção em um lar humilde, onde moravam alguns do remanescente piedoso. De João 12 concluímos que a mulher era Maria de Betânia. Ela evidentemente ungiu tanto Sua cabeça como Seus pés, mas Mateus, enfatizando Seu caráter de Rei, menciona que Sua cabeça foi ungida, como convém a um rei: João, enfatizando Sua Deidade, nos diz que Seus pés foram ungidos, embora um grande servo como João Batista não fosse digno de desatar Suas sandálias.
Os discípulos estavam inteiramente fora de sintonia diante deste ato de devoção, considerando-o como mero desperdício. A queixa deles foi instigada por Judas Iscariotes, como o evangelho de João nos mostra, mas revelou-os como pensando primeiro em dinheiro e depois em pobres, ignorantes e confusos quanto à Sua morte que se aproximava. A mulher não pensava nem em dinheiro nem em pobre. Cristo encheu sua visão e Ele soube interpretar sua ação. Muito provavelmente ela agiu mais por instinto do que por inteligência; mas ela estava consciente de que a morte agora ameaçava o Objeto de sua afeição e adoração, e o Senhor aceitou o que ela fez quanto ao Seu sepultamento. Ele não somente aprovou, mas ordenou que seu ato devotado fosse mantido em lembrança contínua onde quer que o evangelho fosse pregado. E assim tem sido.
A devoção da mulher se levanta no mais forte contraste possível com o ódio dos líderes religiosos, relacionado no parágrafo anterior, e a traição de Judas, relacionada no parágrafo seguinte. A violência atingiu seu clímax nos líderes – eles O matariam imediatamente sem escrúpulos. A corrupção alcançou seu clímax em Judas, que, tendo acompanhado Jesus por três anos, estava desejoso de obter o lucro insignificante de trinta moedas de prata por sua traição. Um escravo em Israel era estimado como valendo trinta siclos de prata, como Êxodo 21:32 mostra.
Então, novamente, se o segundo parágrafo do nosso capítulo (vs. 6-13) nos mostra a devoção de uma discípula ao seu Senhor, o quarto parágrafo (v. 17 em diante) nos mostra a preocupação do Senhor por Seus discípulos, e como Ele contava com a lembrança deles de Si mesmo durante o tempo de Sua ausência que se aproximava.
A páscoa foi comida no lugar escolhido pelo Senhor e, ao ela acontecer, Ele identificou o traidor e avisou-o de seu destino. A ida do Filho do Homem à morte pela traição havia sido predita nas Escrituras Sagradas, mas isso em nada diminuía a gravidade do ato do traidor. O fato de que Deus é onisciente e pode predizer os atos dos homens não os isenta da responsabilidade pelo que eles fazem. Por seu ato, Judas revelou a verdade de quem ele era. Jesus estava prestes a revelar-Se plenamente por sua morte.
Quando a celebração da Páscoa chegou ao fim, Jesus instituiu Sua ceia como memorial de Seu corpo entregue e Seu sangue derramado por nós para remissão dos pecados. Nas palavras dos versículos 26-29 não há nada que definitivamente afirme que a instituição deve ser observada até que Ele venha novamente: para isso temos que nos voltar para 1 Coríntios 11. O fato é deduzido do versículo 29, porque o cálice fala de bênção e gozo, e do qual o Senhor beberá de uma nova maneira quando o reino chegar: enquanto isso o cálice é para nós e não para Ele. Hoje Ele é caracterizado por paciência: no dia do reino Ele entrará na bênção e gozo de um modo totalmente novo. Enquanto isso, temos o memorial de Sua morte, pois nela Seu corpo e sangue são apresentados a nós não conjuntamente, embora Ele fosse um homem vivo na Terra, mas separadamente: este pão, Seu corpo e aquele cálice de vinho, Seu sangue derramado; simbolizando assim a Sua morte.
A caminho do Monte das Oliveiras, Jesus predisse como a Sua morte significaria a dispersão deles, como as Escrituras haviam dito, mas Ele indicou-lhes a Sua ressurreição e designou um local de encontro na Galileia, onde Ele os reuniria novamente. Pedro, no entanto, cheio de confiança própria, resistiu à advertência para sua própria queda, e também demonstrou a sua não percepção do fato e importância da ressurreição. Todos os discípulos foram caracterizados pela mesma coisa, embora não no mesmo grau.
Eles foram muito cedo colocados em teste no Getsêmani. Ali Jesus entrou em espírito na tristeza da morte que estava diante d’Ele, mas totalmente em comunhão com o Seu Pai. Sua própria perfeição fez com que Ele Se afastasse de tudo o que estava envolvido no sofrimento e da morte que o julgamento de Deus produziria; mas aceitou o cálice da mão do Pai. Além disso, foi um tributo à perfeição de Sua Humanidade que Ele desejasse a empatia dos discípulos escolhidos, mas a palavra profética foi cumprida – “esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei” (Sl 69:20). Pedro e os outros, que tinham tanta certeza de que nunca o negariam, não puderam vigiar com Ele uma hora. A carne deles era fraca demais, mas ainda não sabiam disso. Nem sabiam que a traição de Judas estava se concretizando, e a crise estava sobre eles.
Mas assim foi, e no resto deste capítulo vemos o surpreendente contraste entre o Cristo de Deus e todos os outros que de alguma forma entraram em contato com Ele. Todos exibem suas próprias deformidades peculiares: A única figura serena no centro da cena é a Sua.
Primeiro vem Judas, o traidor; mascarando sua traição com tamanha hipocrisia que dezenove séculos depois do evento “o beijo do traidor” continua sendo uma proverbial expressão de nojo. Na linguagem do Salmo 41:9, aqui estava “Meu próprio amigo íntimo, em quem Eu tanto confiava, que comia do Meu pão, levantou contra Mim o seu calcanhar”. Por isso, Jesus Se dirigiu a ele como “Amigo”, e fez-lhe a pergunta indagadora, “a que vieste?” Ele viera para trair o seu Mestre para poder ganhar trinta insignificantes moedas de prata.
A hipocrisia doentia do falso discípulo é seguida pelo zelo carnal de um verdadeiro, a quem sabemos ser Pedro pelo evangelho de João. O homem cheio de confiança própria dorme quando deveria estar acordado, e fere quando deveria estar quieto, quando sua ação teria sido para o descrédito de seu Mestre, caso ela não tivesse sido anulada. Está chegando o tempo em que “os santos” exultarão “em glória” (JND), quando “os altos louvores a Deus” estarão “em seus lábios” (ARA) com “espada de dois fios nas suas mãos para tomarem vingança” (Sl 149:5-7); mas isso é no tempo do segundo Advento e não no primeiro. A ação de Pedro estava totalmente fora de lugar e o encorajava a um golpe de espada sobre si mesmo. Também estava inteiramente fora de harmonia com a atitude de seu Mestre, que tinha um poder irresistível à Sua disposição e, ainda assim, sofreu Ele mesmo como Cordeiro entregue ao matadouro, como a Escritura havia indicado.
Quando Deus estava para apagar de debaixo do céu as cidades da planície, Ele enviou apenas dois anjos para dar o golpe. Se doze legiões tivessem sido lançadas no mundo rebelde, o que teria acontecido? A oração que os teria invocado não foi proferida, e o golpe de Pedro, que atingiu tanto a ele como a seu Mestre, foi simplesmente absurdo. Quando nos contentamos em sofrer como Cristãos, somos espiritualmente vitoriosos; quando pegamos a espada, perdemos a batalha espiritual e finalmente perecemos pela espada. Uma das principais razões pelas quais a Reforma, de cinco séculos atrás, foi tão gravemente detida e desfigurada foi que seus promotores principais tomaram da espada em sua defesa, e assim a transformaram em um movimento nacional e político, em vez de espiritual.
Em seguida, vemos o Senhor lidando calmamente com a multidão que, liderada por Judas, veio prendê-lo. Mostrou-lhes a inadequação e até a loucura de suas ações. No entanto, na presença dela, a fortaleza de todos os discípulos desmoronou e eles abandonaram o seu Mestre e fugiram. Assim são até mesmo os melhores dos homens!
A multidão O entregou aos líderes de Israel, e esses homens que afirmavam representar a Deus, haviam jogado fora qualquer pretensão de buscar justiça. Não nos é dito que foram induzidos a erro ao aceitar provas falsas, nem que foram tentados a receber o erro porque foi imposto a eles. Não, nos é dito que eles buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem dar-lhe a morte”. Eles BUSCAVAM. Já houve alguma vez, nos perguntamos, outro julgamento sobre esta Terra onde os juízes começassem a caçar mentirosos, para que condenassem o acusado? Assim foi aqui; e na presença disso, Jesus manteve a Sua paz. Sendo o julgamento completamente divorciado da justiça, Ele os recebeu com uma dignidade que era divina, e Ele somente falou para afirmar Seu “estado de ser o Cristo”[1], Sua Filiação, e afirmar Sua glória vindoura como o Filho do Homem.
Nisto eles O condenaram, mas o sumo sacerdote violou a lei, rasgando suas roupas ao condená-Lo, por meio do que, apenas condenou a si mesmo. Este foi o sinal para um pandemônio de insultos, no meio do qual estava a figura serena de nosso Salvador e nosso Senhor. A brilhante calma de Sua presença nos ajuda a ver a tenebrosa degradação em que se afundaram.
Por fim, neste capítulo, Pedro colhe o que semeara em sua confiança própria. Lemos que ele “O seguiu de longe” no versículo 58, agora o encontramos entre os inimigos de seu Senhor e incapaz de ficar em pé. Ele prova ser fraco exatamente onde parecia ser forte, tanto quanto a impetuosidade não é a mesma coisa que coragem. A energia carnal o impeliu a uma posição em que ele nunca deveria ter estado, e ele caiu. Não podemos atirar pedras nele. Em vez disso, vamos orar para que, se nos encontrarmos em uma situação semelhante, possa nos ser concedido arrependimento semelhante ao registrado no último verso – um arrependimento que começou assim que a queda havia sido consumada.




[1] N. do T.: O autor usa aqui a palavra “Christhood” que não tem uma correspondente em português, mas cuja definição seria “o estado ou fato de ser o Cristo”.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

MATEUS 25


MATEUS 25


A parábola das dez virgens dá início a este capítulo. Este mundo apresenta uma cena muito emaranhada em todas as direções. A vinda do Senhor vai produzir um completo desembaraçamento. Já vimos isso nas parábolas do trigo e do joio, e da rede lançada no mar, em Mateus. 13, e novamente nos versículos que acabamos de considerar no final de Mateus 24. Encontramos novamente o mesmo grande fato nesta nova semelhança do reino dos céus. O Senhor já havia mencionado a Igreja de uma maneira antecipatória, mas Ele não diz aqui: “Então a Igreja será semelhante...” mas “ o reino dos céus”, que é mais amplo que a Igreja, embora que a inclua. Portanto, as “dez virgens” não representam a Igreja distintamente, embora estejam incluídas em seu escopo.
Assim, estamos com certeza corretos em aplicar a parábola aos santos do momento presente – a nós mesmos. As virgens “saíram” para encontrar o noivo, e fomos chamados para fora do mundo para esperar pelo Senhor. Ali sobrevém um período de esquecimento e adormecimento na história da Igreja. Um grito inspirador sobre a vinda do Noivo foi soado, um grito que disse: “Saí ao Seu encontro” (ARA), isto é, retorne para a sua posição original como um povo chamado. Enquanto havia sonolência, havia pouca ou nenhuma diferença discernível entre a verdadeira e a falsa, mas assim que elas despertaram e voltaram ao seu lugar original, a diferença se manifestou, e aquelas que não tinham óleo foram reveladas. O óleo representa o Espírito Santo, e “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é d’Ele” (Rm 8:9).
Essa parábola foi usada para apoiar a ideia de que somente crentes devotados e plenamente despertos encontrarão o Senhor quando Ele vier, e que os crentes de menor mérito serão penalizados. Nós acreditamos que isso seja um erro. O ponto por toda esta passagem é a maneira pela qual a vinda do Senhor fará completa separação entre aqueles que realmente são d’Ele e aqueles que não são. Nesta parábola, vemos a separação feita entre o real e o falso na esfera da profissão, e o selo do Espírito é possuído apenas pelos que são verdadeiramente de Cristo. O fechamento da porta selou a rejeição do falso. As “insensatas” (TB) não representam os que caíram, mas que uma vez conheceram o Senhor e foram conhecidos por Ele. A palavra não é “uma vez Eu te conheci, mas agora te rejeito”, mas sim: “Eu não vos conheço”. Ora, o Senhor conhece aqueles que são Seus, mas estes eram estranhos para Ele.
No versículo 13, o Senhor aplica essa parábola a Seus discípulos e a nós. Não conhecemos o tempo da vinda do Filho do Homem, e devemos vigiar. Assim, mais e mais, Ele traz Seu ensinamento profético para induzir nosso caráter e comportamento. Ele não nos dá luz quanto ao que está vindo apenas para informar nossas mentes e satisfazer nossos desejos. Assim, depois de nos exortar à vigilância, Ele mostra no restante deste capítulo como Sua vinda nos afetará como servos e, de fato, como isso afetará o mundo. O desembaraçamento que Sua vinda causará estará completo.
A parábola dos servos e dos talentos é trazida para reforçar a exortação à vigilância, dada no versículo 13; e mostra como a vinda do Filho do Homem testará todos os que tomam a posição de Seus servos, e leva à expulsão de tudo o que não é verdadeiro. É um pensamento calculado para que todos reflitam que durante o tempo de Sua ausência; o Senhor tem confiado Seus “bens” para o Seu povo. Seus interesses foram colocados em nossas mãos, e não podemos evitar o ponto da parábola, dizendo: “Eu não tenho nenhum dom especial e, portanto, isso não se aplica a mim”.
O mestre entregou seus bens aos seus servos, “a cada um” deles, e Ele teve a discriminação que Lhe permitiu avaliar a capacidade de cada um, e assim Ele distribuiu para cada “segundo a sua capacidade [suas várias habilidades – KJV]. Podemos distinguir, portanto, entre os dons que podem ter sido concedidos a nós e as habilidades que podemos possuir, sempre lembrando de que o Senhor ajusta a relação entre as duas coisas. Nossas habilidades se referem aos nossos poderes naturais, assim como nossos poderes espirituais, e se estes não forem cinco bem grandes talentos, ou mesmo dois, podem ser apenas um fardo para nós. Se é assim, o Senhor sabe disso e só nos dá um. Podemos conectar isso com os dons mencionados em Romanos 12:6-15, que são de tal caráter que se referem a todo o povo de Deus. Quer o dom concedido seja grande ou pequeno, a grande coisa é usá-lo com diligência.
Igual diligência foi demonstrada pelos servos que receberam os cinco e os dois talentos. Cada um conseguiu duplicar o que lhe fora confiado e, quando o senhor deles retornou, ambos compartilharam igualmente sua aprovação e recompensa. Novamente nesta parábola, note-se, o contraste não está entre a maior ou menor fidelidade e diligência, que podem caracterizar verdadeiros servos, mas entre servos que eram verdadeiros, embora que sua medida de capacidade fosse diferente, e o que definitivamente não era um verdadeiro servo. Aquele que recebera aquele um talento, ocultou-o na terra, em vez de usá-lo no interesse do seu senhor; e isso ele fez porque não tinha verdadeiro conhecimento de seu senhor. Ele alegou saber que ele era um homem duro, exigindo mais do que o devido, alguém para se ter medo. Seu senhor o recebeu com base no conhecimento que ele afirmava ter, e mostrou que sua alegação só agravou sua culpa, pois se então ele fosse um homem duro, mais razão haveria para o uso diligente do talento confiado.
Na realidade, o senhor era tudo menos um homem duro, como testemunhado pelo seu tratamento com os servos que eram bons e fiéis. O ponto da questão era que este servo não tinha conhecimento verdadeiro de seu senhor, nenhum elo verdadeiro com ele. Como resultado, ele perdeu tudo o que lhe havia sido confiado e foi lançado nas trevas exteriores, onde havia choro e ranger de dentes, assim como foi o falso servo retratado no final do capítulo anterior. Na parábola semelhante registrada em Lucas 19, a distinção é feita entre os diferentes servos com seus graus de zelo e fidelidade, e eles são recompensados de acordo. O servo com uma mina sofre perda, mas ele não é lançado nas trevas exteriores. É digno de nota que, em ambos os casos, o fracasso é visto com o homem a quem é confiado o mínimo. Se investigarmos nossos próprios corações, reconheceremos que, quando somos capazes apenas de coisas pequenas, nossa tendência é não fazer nada. O Senhor certamente honrará o servo que, embora de pequena capacidade, faz as pequenas coisas com zelo e fidelidade.
O parágrafo final deste capítulo (vs. 31-46) não é apresentado como uma parábola. As parábolas começaram com o versículo 32 de Mateus 24, e agora que estão completas, o versículo 31 retoma o fio da narrativa profética a partir do capítulo 24:31. Quando Ele vier, o Filho do Homem não apenas reunirá Seus eleitos, mas convocará as nações diante d’Ele, para que possa haver um completo desembaraçamento por toda a Terra do bom e do mal. Todas as nações devem ser reunidas diante d’Ele, e a cena acontece na Terra. No julgamento final, quando a Terra e o céu fogem, predito em Apocalipse 20, nenhuma nação aparece: são apenas “os morto, pequenos e grandes”, pois na morte todas as distinções nacionais desaparecem.
Outras escrituras nos informam sobre os julgamentos marciais a serem executados por Cristo em Pessoa, quando no Armagedom, os poderosos exércitos dos vários reis da Terra serão destruídos. Esses julgamentos, no entanto, ainda deixarão multidões de não-combatentes, e todos estes devem passar diante do escrutínio do Filho do Homem, pois somente Ele pode discriminar e desembaraçar com sabedoria infalível. Ele fará isso como o pastor aparta os bodes das ovelhas; e as consequências, dependendo do Seu julgamento, serão eternas assim como serão no julgamento do grande trono branco. Tanto nessa sessão de julgamento quanto naquela, os homens serão julgados de acordo com suas obras.
O verdadeiro estado de todo coração é conhecido por Deus totalmente à parte das obras; todavia, quando o juízo público é instituído, é sempre de acordo com as obras, uma vez que elas indicam clara e infalivelmente como é esse estado, e assim a justiça dos juízos divinos é manifestada a todos os observadores. Esses mensageiros, que o Rei considera como “Meus irmãos”, haviam saído como Seus representantes, e o tratamento que receberam variou de acordo com a visão que tinham do Filho do Homem que eles representavam. Aqueles que criam n’Ele identificaram-se com Seus mensageiros, e ministraram a eles em sua rejeição e aflições: aqueles que não creram n’Ele não prestaram atenção alguma a eles. Aqueles que tinham fé declararam isso pelas suas obras. Aqueles que não tinham fé declararam-no igualmente pelas suas obras.
Tome nota do fato de que o Rei não acusa os condenados de perseguir e aprisionar Seus servos, mas apenas ignorá-los – tratando-os com negligência. Isso se encaixa com a grande questão de Hebreus 2: “Como escaparemos nós se não atentarmos para uma tão grande salvação?” Naquele dia, ver-se-á que, se os homens tratam a Cristo com negligência, negligenciando Seus servos, eles entram em eterna condenação.
Quem são estes “Meus irmãos”? Se considerarmos todo o discurso profético, do qual esta é a parte final, a resposta não é difícil. No início de Seu discurso, o Senhor dirigiu-Se pessoalmente a Seus discípulos e disse-lhes como seriam odiados, afligidos e traídos, mas que o fim só viria quando “este evangelho do reino” fosse pregado em testemunho para todas as nações, e que aqueles que perseverarem ao fim serão salvos. Ele falou como se os discípulos que estavam diante d’Ele estivessem lá no final, porque Ele os via como representativos desses irmãos. Os “irmãos” no final do discurso são os discípulos dos últimos dias, que foram representados pelos discípulos dos primeiros dias, a quem o Senhor estava falando. Agora, embora estes tenham sido um pouco mais tarde batizados pelo Espírito no único corpo, que é a Igreja, como registrado em Atos 2, eles eram naquele momento simplesmente um remanescente de Israel que havia descoberto o Messias em Jesus, e se uniram a Ele. Eles representaram um similar remanescente de Israel que nos últimos dias terá seus olhos abertos e tomará o fio partido do “este evangelho do reino” – partido quando Cristo foi rejeitado na Terra, e tomado e renovado pouco antes de voltar a Terra para reinar.
No parágrafo final de Mateus. 25 o fim é chegado. O Filho do Homem é o Rei, os discípulos que perseveraram até o fim são salvos, as nações são julgadas, o desembaraço do bem e do mal é completo, o resultado do julgamento é eterno. Três vezes a palavra “eterno” ocorre. O castigo do ímpio e o fogo para o qual vão são eternos: a vida em que o justo passa é eterna. O oposto da vida não é a cessação da existência, como seria se a vida meramente significasse a existência como resultado da centelha vital que permanece em nós: Porém é castigo, porque a vida eterna significa toda a esfera das verdades abençoadas e eternas em que os justos se moverão para sempre. O ponto aqui não é que a vida esteja neles, mas que eles passam para ela. Naquela feliz observação, o discurso profético do Senhor termina.

domingo, 31 de março de 2019

MATEUS 24


MATEUS 24


Tudo o que temos lido, desde Mateus 21:23, ocorreram nos recintos do templo. Agora, em Mateus 24:1, Jesus parte dali, e os discípulos desejaram chamar Sua atenção para alguns de seus esplêndidos edifícios, e apenas obtiveram d’Ele a previsão de que seria derrubado até aos alicerces. Isso iniciou as investigações deles quanto ao tempo do cumprimento de Suas palavras, que eles conectaram com o fim dos tempos. As primeiras palavras de Sua resposta mostram que Suas predições são para nos avisar e nos antecipar, e não meramente para ministrar à nossa curiosidade, ou mesmo à nossa sede de conhecimento exato. Devemos acautelar a nós mesmos.
Falsos Cristos são preditos juntamente com guerras e rumores de guerras, mas essas coisas não indicam o fim. Haverá fomes, pestes, terremotos, assim como guerras, mas estes são apenas o princípio de dores. Juntamente com estas coisas, haverá a perseguição e martírio dos discípulos, a apostasia de alguns que professam discipulado, o surgimento de falsos profetas, a abundância de iniquidade, e o retrocesso no coração de muitos professos. Numa hora como essa, os verdadeiros serão marcados pela perseverança até o fim, quando a salvação os alcançar. Além disso, todo o tempo Deus manterá o Seu próprio testemunho entre todas as nações, e quando isto for completado, o fim virá.
Três vezes nestes versículos o Senhor fala do “fim”, e em cada caso Ele Se refere ao fim dos tempos, a respeito dos quais os discípulos haviam perguntado. Para Seus verdadeiros discípulos, marcados pela perseverança, o fim trará a salvação. Ele enfatiza isso primeiro, antes de dizer que trará julgamento aos Seus inimigos. Note-se que é “este evangelho do reino”, que deve ser plenamente pregado antes de vir o fim; isto é, o evangelho que o próprio Senhor havia pregado – veja Mateus 4:23, 9:35 – anunciando o reino como estando às portas. O evangelho que pregamos hoje – veja 1 Coríntios 15:1-14 – quanto à sua natureza, não poderia ser declarado antes de Cristo ter morrido.
No tempo do fim, a abominação da desolação, mencionada em Daniel 12:11, deve ser encontrada no lugar santo, e Jerusalém está em questão, como mostra o versículo 16. Evidentemente, haverá novamente um templo com seu lugar santo no tempo do fim, para ser profanado por essa idolatria supremamente abominável. Nesse momento será cumprida a profecia de Mateus 12:43-45: o espírito maligno da idolatria entrará no povo com uma força sete vezes maior, e a massa deles aceitará estar essa abominação no lugar santo – provavelmente “a imagem da besta”, mencionada em Apocalipse 13:14-15. Por causa desta iniquidade extrema, a desolação cairá sobre eles sob o governo de Deus. Então, o estabelecimento dessa abominação será o sinal para os piedosos de que a grande tribulação prevista foi iniciada e que sua segurança está em fugir de Jerusalém e da Judeia, onde a fornalha de aflição terá o seu mais alto calor. O Senhor estava falando com Seus discípulos, que naquele momento eram apenas israelitas piedosos ao redor do Messias na Terra, embora atualmente devessem ser edificados no alicerce da Igreja que estava para ser estabelecida. Portanto, naquele momento eles representavam não a Igreja, mas o remanescente piedoso de Israel, ainda observando cuidadosamente a lei do Sábado (v. 20), e muitos deles localizados na Judeia. Fuga imediata deveria ser a sua conduta. Isso concorda com o que é exposto simbolicamente em Apocalipse 12:6.
A grande tribulação é totalmente sem precedentes e nunca será igualada, muito menos superada. Isto o Senhor declara no versículo 21; e a razão disso é que, como mostra o livro do Apocalipse, este será um tempo de imposição da ira do céu – o derramamento das taças do juízo. Não será apenas um caso de homens afligindo homens, ou uma nação flagelando outras nações, como vemos tão impressionantemente hoje, mas de Deus açoitando as nações enquanto Ele acerta Suas contas com elas. A ira de Deus “se revela do céu” (Rm 1:18 – TB), embora ainda não tenha sido executada, e, no que diz respeito às nações, ela cairá nesse momento. Nações como tais só são encontradas neste mundo; elas não existem além do túmulo, embora os homens que as compõem existam.
Haverá almas eleitas na Terra durante a tribulação e por causa delas esse tempo será abreviado, como o verso 22 nos diz: como fala Romanos 9:28. o Senhor “completará a obra e abreviá-la-á em justiça; porque o Senhor fará breve a obra sobre a Terra” (ARF), e isso para que um remanescente possa ser salvo. Hoje Deus está ministrando misericórdia por meio do evangelho, e Ele tem feito uma obra muito extensa, estendendo-se por até dezenove séculos[1]: quando Ele ministra ira, Ele fará a obra rápido, abreviando-a em justiça. Um breve período de três anos e meio irá cobri-la, como mostram outras escrituras. Assim, a bondade de Deus será manifestada tanto em misericórdia como em ira.
Naquele tempo, o diabo saberá muito bem que a vinda de Cristo está para acontecer; Daí ele procurará confundir o assunto levantando impostores e dotando-os de poderes sobrenaturais, na esperança de enganar os eleitos que esperam por Ele. O versículo 24 indica claramente que nem todos os sinais milagrosos são de Deus. Existem dois tipos – o divino e o diabólico. No tipo divino, há uma manifestação do caráter divino em graça e poder; o tipo diabólico pode muitas vezes ser mais chamativo, surpreendente e atraente para os homens não convertidos. As pessoas de hoje, que têm um desejo ardente pelo milagre, devem ter grande cuidado para não serem enganadas.
A vinda do verdadeiro Cristo de Deus será marcada pela maior publicidade possível, como o raio. Ninguém precisará penetrar em um deserto remoto ou em uma câmara secreta para vê-Lo. Assim como os abutres são encontrados onde quer que estejam as carcaças, Ele também cairá em julgamento onde quer que os homens sejam encontrados se deteriorando na podridão e na epidemia do pecado.
A tribulação será seguida pela ruptura e derrota dos poderes existentes tanto no céu como na Terra, e então o Filho do Homem será manifestado em Sua glória. Duas vezes anteriormente, o Senhor havia falado do “sinal do profeta Jonas” (Mt 12:39-40, 16:4), que era o Filho do Homem três dias no túmulo. Aqui, temos o sinal do Filho do Homem no céu – O sinal de que finalmente Deus está prestes a estabelecer Seus direitos nesta Terra rebelde, e os impõe pelo Homem de Seu propósito e escolha. Que dois grandes sinais são estes! Quem dirá qual deles é maior? Ambos são igualmente grandes em sua época e comandam nossa venerada adoração.
Tendo aparecido em Sua glória, Ele reunirá Seus eleitos, aqueles por quem os dias da tribulação foram abreviados. Esta reunião será realizada por ministração dos anjos e sinalizada pelo grande som de uma trombeta; será o cumprimento da festa das trombetas (Lv 23:24-25), assim como a Páscoa foi cumprida na morte de Cristo, e Pentecostes no dom do Espírito e formação da Igreja. Essa reunião dos eleitos é em vista da bem-aventurança milenar; não há menção de qualquer arrebatamento para o céu, ou mesmo de ressurreição, pois é a reunião de pessoas vivas na Terra. No capítulo 16, o Senhor revelou que Ele iria edificar Sua igreja, mas seu chamado e destino celestiais não haviam sido revelados, portanto o versículo 31 não se refere à Igreja.
Com o versículo 32 começamos uma série de parábolas e declarações. A figueira é uma parábola do judeu; e quando vemos um reavivamento da vida nacional com essas pessoas, devemos saber que o tempo do verão está próximo, mas até que todas as coisas sejam cumpridas e esse momento chegue “esta geração” não passará. O Senhor falou várias vezes desta geração – veja Mateus 11:16, 12:39, 45, 16:4. É uma geração muito antiga e persistente, pois Moisés a denunciou em Deuteronômio 32:5 e 20 – “filhos em quem não há fidelidade”. A geração incrédula enfrentará seu destino quando Jesus vier, mas não antes. Eles avançarão, e as palavras de Cristo permanecerão.
O tempo exato de Seu advento é um segredo conhecido apenas pelo Pai, que reservou todos os tempos e épocas sob Sua própria autoridade (veja Atos 1:7); e porque isto é assim virá como uma surpresa completa ao mundo negligente. Será como nos dias de Noé; homens absortos em seus prazeres até que o julgamento cai sobre eles. Então, uma separação eterna para homens e mulheres ocorrerá. Sofonias 3:11-13 será cumprido; os transgressores serão levados em juízo; as pessoas humildes e pobres que confiam no nome do Senhor serão deixadas para as bênçãos do milênio, e estas são “o remanescente de Israel”.
No versículo 42, vemos novamente como o Senhor trouxe essas realidades proféticas para influenciar a conduta de Seus discípulos. Como não sabiam a hora, deviam ser marcados por vigilância e serviço fiel. O servo a quem governo é confiado deve cumprir sua responsabilidade. Fazendo isso, ele será abençoado e recompensado. Por outro lado, é possível que homens tomem o lugar de servos e, ainda assim, sejam maus. Tais irão ignorar suas responsabilidades e maltratar seus conservos, dizendo em seus corações: “meu Senhor tarde virá”. Esse é sempre o pensamento do mundo. Eles ouvem a profecia e dizem: “visão que este vê é para muitos dias, e ele profetiza de tempos que estão longe” (Ez 12:27). O verdadeiro servo mantém-se em prontidão para a vinda de seu Senhor e cuida diligentemente de Seus interesses enquanto espera.
Os versículos 50-51 mostram que contemplado o “mau servo” percebemos que não é um homem que falhe gravemente porém ainda seja verdadeiro no seu interior, mas um homem que é inteiramente falso. Seu Senhor irá julgá-lo e destinará a sua parte com os hipócritas, porque ele é um hipócrita. Ele será banido sob o julgamento para junto de seus semelhantes. Quando o hipócrita é desmascarado e julgado, há choro e ranger de dentes verdadeiramente.




[1] N. do T.: Frank Binford Hole viveu neste mundo de 1874 a 1964

sábado, 30 de março de 2019

MATEUS 23


MATEUS 23


Este capítulo registra Suas palavras de furor. Em poucos dias a multidão, influenciada por esses homens, estaria bradando por Sua morte. Sua responsabilidade e culpa foram grandemente aumentadas por esse aviso que o Senhor lhes deu quanto ao verdadeiro caráter de seus líderes.
Ele começou por concedendo a eles o lugar que eles reivindicaram como os expoentes da lei de Moisés. Portanto, o povo devia observar e guardar a lei como eles ouviram de seus lábios. No entanto, eles deveriam evitar cuidadosamente tomá-los como exemplos. Suas vidas contradiziam a lei que eles proclamavam. Eles legislaram para os outros sem a menor consciência quanto à sua própria obediência. Isto o Senhor declarou no versículo 4, e é uma ofensa muito comum entre os religiosos professos, que amam dirigir outras pessoas enquanto são permissivos consigo mesmos.
Então, nos versículos 5-12, Ele expôs seu amor de serem vistos e terem preeminência. Tudo era para o olho dos homens. Nas festas – o círculo social, nas sinagogas – o círculo religioso, nos mercados – o círculo de negócios, eles queriam o lugar principal como rabinos e mestres. O discípulo de Cristo deve ser o exato oposto de tudo isso, então vamos trazer isso profundamente ao coração. A derrubada de tais homens é apenas uma questão de tempo. Eles deveriam ser sinalizadores para o reino, mas na verdade eram obstáculos. Eles não entraram e impediram os outros de entrar.
Além disso, usaram sua posição para roubar a pobre e viúva indefesa, encobrindo essa maldade com a ostentação de longas orações; consequentemente eles deveriam receber um julgamento mais severo. Longas orações podem impressionar a multidão, mas não impressionavam o Senhor! Vamos nos lembrar disso e evitá-las nós mesmos. Atrevemo-nos a afirmar que ninguém marcado pelo desejo profundo e realmente consciente da presença de Deus, pode vagar em um labirinto de palavras. Como Eclesiastes 5:2 indica, suas palavras devem ser poucas.
Grande zelo para fazer prosélitos[1] é característico da mente farisaica, e as palavras do Senhor no versículo 15 expõem uma característica notável do mero proselitismo. A reprodução com maior ênfase do caráter dos proselitistas naqueles que são proselitizados. Os fariseus eram filhos do inferno, e seus convertidos eram duas vezes mais filhos do inferno. É por isso que há sempre uma tendência para homens sedutores e malignos piorarem cada vez mais, até que tudo esteja pronto para o julgamento.
Nos versículos 16-22, o Senhor condena seus fantasiosos ensinamentos. As distinções que eles traçam entre o templo e o ouro do templo, entre o altar e a oferta sobre ele, podem fazer com que os distraídos os considerem com admiração, como possuindo mentes muito superiores; na realidade, suas distinções eram puramente imaginárias e apenas uma prova de sua própria cegueira e insensatez. Assim, com outros assuntos; muita meticulosidade sobre pequenas coisas; muita negligência quanto a grandes coisas – seja positivamente, quanto ao que eles observavam, como no verso 23, ou negativamente, quanto ao que eles recusavam, como no versículo 24. De fatos eles eram cegos, e esse tipo de cegueira é muito comum hoje em dia .
Os versículos 25-28 expõem outra característica perniciosa; eles só se preocupavam com a limpeza externa, de modo a parecer bem aos olhos dos homens. Eles não se preocuparam com o interior que era visível aos olhos de Deus. Eles foram os mais cuidadosos quanto à possível contaminação adquirida pelo contato externo; porém os mais descuidados quanto à contaminação que eles mesmos geraram internamente. Como resultado, tornaram-se centros de contaminação e, ao invés de serem contaminados por outros, eles mesmo difundiam a contaminação a outros. Acima de qualquer suspeita, este é o mal mais sutil, do qual bem devemos orar para que possamos ser preservados.
Por último, nos versículos 29-33, o Senhor os acusou de serem os que mataram os profetas de Deus. Eles edificaram os sepulcros para os profetas anteriores, uma vez que a ferroada de suas palavras não era mais sentida, mas eles eram verdadeiramente filhos daqueles que os haviam matado; e, fiel ao princípio do versículo 15, eles se mostrariam duas vezes mais filhos dos matadores; enchendo a medida de pecados de seus pais e terminando sem dúvida na condenação do inferno.
Esta passagem nos fornece a mais terrível denúncia dos lábios de Jesus, da qual temos registro. Ele nunca disse essas coisas a qualquer publicano ou pobre pecador. Essas palavras de furor eram reservadas para os religiosos hipócritas. Ele era cheio de graça e verdade. Graça com verdade Ele estendeu aos pecadores confessos. O holofote da verdade, sem menção da graça, estava reservado para os hipócritas.
Então aconteceu que o sangue de uma longa linhagem de mártires estava à porta daquela geração; e agora, pela última vez, Jerusalém estava tendo a oportunidade de confiar sob as asas de Jeová, que estava entre eles na Pessoa de Jesus. Frequentemente, Ele os teria protegido assim como os Salmos prestam testemunho, e frequentemente Jesus os teria reunido durante Sua jornada entre eles; mas eles não quiseram. Consequentemente, a formosa casa em Jerusalém, outrora reconhecida como de Jeová, foi deserdada. Era apenas a casa deles e estava desolada; e aqu’Ele que a teria enchido estava saindo deles, para não ser mais visto até que dissessem: “Bendito O que vem em nome do Senhor”. Eles não dirão isso, como mostra o Salmo 118, até que chegue “o dia que fez o Senhor”, quando “A Pedra que os edificadores rejeitaram tornou-Se cabeça da esquina”.




[1]  N. do T.: Um prosélito é alguém que saiu de uma religião pagã e aderiu ao judaísmo.

MATEUS 22


MATEUS 22


Mas o Senhor calmamente continuou com o que tinha a dizer-lhes, assim, na abertura deste capítulo, temos a parábola do casamento do filho do rei, que prediz do dia do evangelho que estava prestes a amanhecer. Não há a pergunta: “Que vos parece?” sobre esta parábola, pois ela vai completamente para além dos pensamentos dos homens. Ela também se distingue das outras duas parábolas pelo início: “O reino dos céus é semelhante” ou, mais literalmente, “tornou-se semelhante” (JND). Os homens vêm à jurisdição do céu pela recepção do convite do evangelho, quando a ruptura é completa, como figurado nas outras parábolas. Agora, novamente, vamos ouvir algo novo, assim como aconteceu no capítulo 13.
Nesta parábola o rei não exige nada de ninguém. Ele dá em vez de exigir. Ele também tem um “Filho” em cuja honra Ele faz uma festa de casamento, enviando Seus servos para chamar os homens a virem. Quão habilmente o chamado anuncia a mensagem do evangelho: “Eu tenho preparado... tudo está pronto: vinde às bodas”. Preparado pelo sacrifício de Cristo. Pronto, porque a Sua obra está consumada. Por isso, agora não é “Vai trabalhai”, mas “Vinde”.
Em primeiro lugar, o convite saiu para “os convidados”, um número de pessoas especialmente privilegiadas. Vemos o cumprimento disso nos primeiros capítulos de Atos. Por um curto período de tempo o evangelho foi enviado apenas para os judeus, mas a maioria deles fez pouco caso disso, ocupados com ganhos mundanos, enquanto alguns se opuseram ativamente, perseguindo e matando alguns dos primeiros mensageiros, como visto no caso de Estêvão. Este primeiro estágio terminou com a destruição de Jerusalém, como predito no versículo 7.
Então o convite é estendido como vemos nos versículos 9 e 10. Na parábola de Lucas 14, encontramos um servo, representando sem dúvida o Espírito Santo; aqui muitos servos estão em questão, representando os instrumentos humanos que o Espírito pode usar. Eles vão às encruzilhadas dos caminhos, convidando a todos os que encontram, sejam maus ou bons. O Espírito pode “compelir” os homens a entrar, como em Lucas 14: os servos são instruídos a convidar todos e quaisquer com os quais se depararem. Nem todos irão responder, mas por este meio a festa terá o seu total de convidados completo. O pregador do evangelho não deve se envergonhar com perguntas quanto à graça eletiva de Deus. Ele simplesmente tem que passar a Palavra para todos que encontra; reunindo todos aqueles que respondem, porque Deus tocará o coração dos homens.
A segunda parte da parábola, versículos 11-14, mostra que, como sempre quando se refere à atividade humana, o que não é irreal pode entrar e permanecer por um tempo. Ao não aceitar o vestido de núpcias de casamento, o homem se recusou a honrar o filho do rei. Quando o rei apareceu o homem foi detectado e consignado ao seu verdadeiro lugar nas trevas exteriores. A presença divina irá desmascarar o que não é verdadeiro e desvendar tudo. Vimos isso em Mateus 13, e vamos vê-lo novamente em Mateus 25.
O fato de os fariseus agora estarem ficando desesperados é visto no fato de que eles foram levados a uma aliança com os herodianos, a quem eles abominavam. Sua pergunta quanto ao tributo foi habilmente construída de modo a deixá-Lo em descrédito tanto a César quanto com o povo. Eles começaram com o que pretendiam ser bajulação, mas que era uma sóbria afirmação da verdade. Ele era verdade. Ele ensinou o caminho de Deus em verdade. Ele estava totalmente acima em relação às pessoas dos homens. Pedindo o dinheiro do tributo, Ele lhes mostrou que era evidentemente de César, pois tinha sua imagem sobre ele. Se é de César deve ser entregue a ele; mas então Ele os colocou na presença de Deus. Eles estavam oferecendo a Deus as coisas que eram d’Ele? Essa grande resposta não apenas os surpreendeu, mas também feriu suas consciências de modo que eles foram embora. Jesus havia declarado um grande princípio de ação aplicável a todos nós, desde que estivéssemos sob a jurisdição de qualquer tipo de César. Devemos prestar a César todos os seus direitos, mas as coisas que são de Deus são muito mais altas e mais extensas do que tudo o que é de Cesar.
A questão proposta pelos saduceus foi habilmente projetada com o duplo objeto de embaraçar Jesus e de ridicularizar a crença na ressurreição, que para as suas mentes significava apenas uma restauração da vida em condições normais neste mundo. Sem dúvida, eles tinham certeza de que, em resultado, Jesus ficaria desconcertado e eles mesmos confirmados em sua incredulidade. Mas a resposta do Senhor mostrou que a ressurreição introduz em outro mundo onde prevalecem condições diferentes, e Ele citou Êxodo 3:6, mostrando que nos dias de Moisés, os Patriarcas viviam naquele outro mundo, embora ainda não ressuscitados dos mortos. O fato de que seus espíritos estavam lá garantiu que, finalmente, eles estariam lá em corpos ressuscitados.
Naqueles dias os sacerdotes eram principalmente da seita dos saduceus, e o Senhor não os poupou na exatidão de Sua repreensão. “Errais”, era Sua palavra clara e Ele indicou a fonte do erro deles; eles não conheciam nem as Escrituras, que professavam expor, nem o poder de Deus, a Quem professavam servir. Este duplo erro permeia a toda a incredulidade religiosa moderna. Primeiro, as Escrituras são frequentemente mal citadas e sempre mal compreendidas. Segundo, em suas mentes Deus está tão despojado de Seu poder e glória que dificuldades sem fim são criadas. Deixe Seu poder ser admitido e as dificuldades deixam de existir.
A resposta do Senhor surpreendeu a todos que a ouviram. Evidentemente era tudo novidade para eles, até para os fariseus, os quais nunca conseguiram silenciar os saduceus dessa forma. Ouvindo isso, os fariseus se reuniram, e um deles fez ao Senhor sua pergunta sobre a lei, levantando um ponto que, sem dúvida, frequentemente discutiam entre si. Ele estava pensando sobre os Dez Mandamentos em Êxodo 20, mas o Senhor o levou a Deuteronômio 6:5 e acrescentou Levítico 19:18. A exigência da lei é resumida em uma palavra – amor. Primeiro, amor a Deus; segundo, amor ao próximo. Quando Paulo nos diz: “o amor é, pois, o cumprimento da lei” (Rm 13:10 – TB), ele está apenas afirmando em outras palavras o que Jesus disse aqui (v. 40).
As três parábolas os haviam trazidos face a face com a graça do evangelho; as três perguntas foram respondidas de modo a impressionar o amor, como exigência suprema da lei. A esse amor eles eram estranhos. No entanto, estando ainda reunidos, Jesus propôs a eles Sua grande pergunta: “Que pensais vós do Cristo? De Quem é Filho?” Eles sabiam que Ele era o Filho de Davi, mas por que Davi O chamava de seu Senhor, no Salmo 110, eles não sabiam. A única solução possível desse problema foi dada no primeiro capítulo do nosso evangelho. “Jesus Cristo, Filho de Davi” é “Emanuel, que traduzido é: Deus conosco”. Se a fé uma vez apreende isso, toda a posição é tão clara quanto a luz do Sol. Se isso for recusado como acontece com esses pobres fariseus, tudo é obscuro. Eles estavam nas trevas. Eles não poderiam responder uma palavra sequer, e seu fracasso era tão completo que não ousavam mais questioná-Lo.
No entanto, apesar de eles terem concluído com Ele, o Senhor não havia terminado com eles. Tinha chegado a hora de desmascarar esses hipócritas na presença das multidões, que estavam sob sua influência.