domingo, 2 de dezembro de 2018

MATEUS 12


MATEUS 12


Das alturas alcançadas no último capítulo, descemos às profundezas da loucura e da cegueira humanas, como demonstradas pelos fariseus. Neste capítulo, O vemos definitivamente rejeitado pelos líderes dos judeus, e não apenas pelas cidades da Galileia. Nos dois primeiros casos, a disputa foi em torno do sábado. O Senhor defendeu a ação de Seus discípulos em pelo menos quatro fundamentos (vs. 3-8).
Em primeiro lugar, quando Davi, o rei ungido de Deus estava sendo rejeitado, suas necessidades tiveram prioridade sobre uma questão de ordem do tabernáculo, e seus seguidores estavam associados a ele nisso. O maior Filho de Davi estava agora rejeitado, então as necessidades de Seus discípulos não deveriam ser satisfeitas, mesmo que isso violasse suas regulamentações do sábado? Em segundo, o templo tinha prioridade sobre o sábado, pois os sacerdotes sempre trabalhavam nos sábados; e Jesus afirmou ser maior que o templo. Deus estava verdadeiramente em Cristo em medida infinitamente mais completa do que jamais esteve no templo. Terceiro, havia uma palavra sobre misericórdia em Oséias 6, à qual anteriormente Ele havia Se referido; que é aplicada neste caso. E, quarto, Jesus afirmou que, como Filho do Homem, Ele era o Senhor do sábado: em outras palavras, o sábado não tinha poder sobre Ele. Ele era o seu Senhor, e Ele poderia Se dispor dele como bem entendesse.
No segundo caso, o Senhor respondeu ao jogo de palavras deles por um apelo ao que eles próprios praticavam. Eles não tinham remorso em se preparar para trabalhar no sábado a fim de mostrar misericórdia a uma ovelha. Quem eram eles então para contestar a Sua misericórdia para com um homem no sábado? O Senhor prontamente mostrou essa misericórdia; contudo, tal era a obstinada dureza de seus corações, que Sua misericórdia apenas despertava neles pensamentos de homicídio. Eles decidiram, a partir desse momento, sobre Sua morte.
Diante disso, Jesus começou a deixar de dar testemunho Seu a eles pois estavam preparando para colocá-Lo na morte; advertindo aqueles a quem Ele ainda estendia misericórdia de que eles não deveriam torná-Lo conhecido. Mateus cita a linda profecia de Isaías 42, mostrando como ela foi cumprida n’Ele. Algumas delas ainda precisam ser cumpridas em Sua segunda vinda, pois Ele ainda não fez triunfar o juízo. Mas Ele enfrentou o amargo ódio e rejeição em Sua primeira vinda sem contenda ou clamor ou esmagando Seus inimigos. Nada é mais inútil do que uma cana quebrada, e nada mais repulsivo às narinas do que um morrão que fumega. Os fariseus eram como estes dois, mas Ele não os quebrará e os apagará até que chegue a hora do julgamento. Enquanto isso, em Seu Nome, os gentios estão aprendendo a confiar.
Em Isaías 32, as vindas não são distinguidas, como é frequentemente o caso nas escrituras do Velho Testamento, mas agora podemos ver claramente como ambas estão envolvidas. Neste momento, Jesus veio como o vaso de misericórdia e não para exercer julgamento. Rejeitado pelos líderes de Seu povo, Ele Se voltaria para os gentios e deixaria a misericórdia fluir para eles. Isto é claramente anunciado aqui.
Não é isto de imenso interesse para nós, vendo que estamos entre os gentios que confiaram em Seu Nome?
Por parte dos fariseus, temos visto o ódio se elevar a ponto do homicídio; e vimos, da parte de Jesus, tal mansidão e humildade de coração que O levaram a suspender toda a ação em julgamento e a aceitar o mal deles sem contendas ou protestos. Mateus agora registra o caso de um homem que se tornou cego e mudo por um demônio. Jesus deu-lhe visão e fala, expulsando o demônio, e a multidão, grandemente admirada, começou a pensar n’Ele como o verdadeiro Filho de Davi. Vendo isto, os fariseus se levantaram com medidas desesperadas, e repetiram ainda mais ousadamente a afirmação blasfema de que o poder que Ele exercia era de Satanás. Sua blasfêmia anterior (veja Mt 9:34), passou sem resposta, mas desta vez o Senhor julgou a ousadia.
Em primeiro lugar, Ele Se opôs a eles no terreno da razão. A acusação deles envolvia um absurdo, pois se Satanás expulsasse Satanás, estaria destruindo seu próprio reino. Também envolvia uma calúnia contra seus próprios filhos, que professavam expulsar demônios. Em segundo lugar, Ele lhes deu a verdadeira explicação: Ele estava aqui em Humanidade, agindo pelo Espírito de Deus, e assim amarrara Satanás, o homem forte, e agora estava tirando de sob o seu poder aqueles que tinham sido apenas seus “bens”. Esta foi outra prova clara de que o reino estava no meio deles.
Também trouxe coisas para uma visão muito clara, que não estar definitivamente com Cristo e não ajuntar com Ele, era estar contra Ele e espalhar. Isso levou o Senhor a desmascarar a verdadeira natureza do pecado deles, que estava além da fronteira do perdão, apesar do fato de que todo tipo de pecado poder ser perdoado. Deus lhes foi apresentado objetivamente no Filho do Homem: eles poderiam falar contra Ele, e ainda assim ser trazidos pela obra do Espírito ao arrependimento, e assim serem perdoados. Mas blasfemar contra o Espírito Santo, por Quem o arrependimento e a fé são produzidos na alma, é colocar-se em uma posição sem esperança. É alguém deixar de lado tanto o arrependimento como a fé, e assim trancar e barrar a única porta que leva à salvação.
O triste fato era que esses fariseus eram árvores totalmente corruptas, uma geração de víboras e suas más palavras haviam sido apenas a expressão do mal de seus corações. Nos versículos 33-37, o Senhor desmascarou seus corações dessa maneira e declarou que seriam julgados por suas palavras. Se os homens terão que prestar contas de cada palavra vã no dia do julgamento, o que palavras más como essas merecerão? Naquele dia, por suas palavras, eles seriam totalmente condenados.
Pelo pedido deles, registrado no versículo 38, os fariseus revelaram que eram moralmente cegos e insensíveis, bem como corruptos e maus. Ignorando, de forma inconsciente ou voluntariamente, todos os sinais que haviam sido dados, pediram um sinal. Podemos notar cinco sinais no capítulo 8 e cinco no capítulo 9, além dos registrados em nosso capítulo. Sendo maus e adúlteros eles não podiam perceber o sinal mais óbvio, então nenhum sinal deveria ser dado, senão o maior de todos – Sua própria morte e ressurreição, que havia sido tipificada na notável história de Jonas. A geração que estava rejeitando o Senhor estava na presença de sinais, mais do que todos os outros que foram antes deles. Jonas e sua pregação havia sido um sinal para os ninivitas, e em uma data anterior Salomão e sua sabedoria havia sido um sinal para a rainha do sul, e resultados impressionantes haviam sido alcançados. No entanto, Jesus foi rejeitado.
E ainda assim, Jesus permanece infinitamente acima de todos eles. Em nosso capítulo, Ele fala de Si mesmo como “maior do que o templo”, “maior do que Jonas”, “maior do que Salomão”. Além disso, deve ser observado que Ele indicou como Jonas e Salomão haviam sido sinais para os gentios. Embora servos de Deus em Israel, sua fama foi para o norte – para Nínive e para o sul – para Sabá, respectivamente. Esses gentios tinham ouvidos para ouvir e corações para apreciar, mas os judeus farisaicos que cercavam o nosso Senhor eram cegos e amargamente opostos, a ponto de cometerem esse pecado imperdoável.
Qual seria o fim dessa geração incrédula? O Senhor nos diz nos versículos 43-45. O espírito maligno da idolatria, que os influenciara em sua história anterior, de fato se afastou deles. Cristo, o Revelador do verdadeiro Deus, deveria ter ocupado a casa; mas eles estavam rejeitando-O. O resultado disto seria o retorno daquele espírito maligno com sete outros piores que ele. Essa palavra de nosso Senhor será cumprida nos últimos dias por meio do anticristo. A raça descrente dos judeus adorará a imagem da besta e será escravizada por poderes satânicos de terrível potência. Quando o julgamento cair, os judeus apóstatas, sobre os quais ele cairá, serão piores do que todos os que os precederam. Acreditamos que a mesma coisa será verdade para as raças gentias também.
O capítulo termina com o incidente significativo relativo à mãe e irmãos de Jesus. Na verdade, eles vieram com um espírito errado, como é visto consultando Marcos 3:21 e 31. Isso, no entanto, não é o ponto aqui. O Senhor usou a ocasião da intervenção deles para rejeitar um relacionamento meramente natural e mostrar que o que contaria a partir de então seria um relacionamento de natureza espiritual. Dessa forma figurativa, Ele colocou de lado naquele momento o antigo elo formado por Sua vinda como o Filho de Abraão, o Filho de Davi, e mostrou que o elo a ser reconhecido agora era aquele formado pela obediência à vontade de Deus. Os judeus como povo, tinham rejeitado a Ele e agora Ele os rejeita. Ele reconhece Seus discípulos como estando em verdadeira relação com Ele, pois, embora fracos, eles começaram a fazer a vontade de Seu Pai no céu.

sábado, 1 de dezembro de 2018

MATEUS 11


MATEUS 11


O envio dos doze não significava que o Senhor suspendeu Seus labores pessoais, como mostra o primeiro verso; e toda essa atividade agitou João em sua prisão. Podemos bem imaginar que ele esperava que o grande Personagem, que ele havia anunciado, fizesse algo em sua causa; mas aqui estava Ele, libertando todos os tipos de pessoas indignas de suas doenças e problemas, e aparentemente negligenciando Seu precursor. Testado assim, a fé de João vacilou um pouco. A resposta do Senhor a João assumiu a forma um testemunho mais abrangente de Suas próprias atividades em graça, mostrando que Ele estava de fato cumprindo a profecia de Isaías 61:1; e bem-aventurado foi aquele que não tropeçou por Sua humilhação e pela ausência da glória exterior que caracterizará Sua segunda vinda.
Então Jesus deu testemunho de João. Ele não era nenhuma cana oscilante nem homem de luxo; mas era mais do que um profeta, o próprio mensageiro predito por Malaquias, que devia preparar o caminho do Senhor. Além disso, João foi o “Elias” do primeiro advento e ele marcou o fim de uma época. A dispensação da lei e dos profetas correu até ele, e desde o seu dia em diante o reino dos céus estava aberto inaugurado, e deveria haver “violência” ou o vigor da fé para se obter uma entrada. Quando o reino chegar visivelmente, não haverá a mesma necessidade de tal vigor de fé. Tudo isso mostrou quão grande o homem João era, no entanto, o menor dentro do reino teria uma posição maior do que esse grande homem, que preparou o caminho, mas ele mesmo não viveu para entrar no reino. A grandeza moral de João era insuperável, embora muitos de menor peso moral seriam maiores quanto à posição exterior.
Ao falar de João, sua grandeza e a posição que lhe foram dadas em relação ao seu ministério, o Senhor passou a tratar com a indiferença do povo. Eles ouviram a forte pregação de João e agora ouviram o Senhor e viram Suas obras de poder; no entanto, nem um nem o Outro realmente os afetaram.
Eles eram como crianças irreverentes que não seriam persuadidas a participar da peça. Houve uma nota de severidade no ministério de João Batista, mas eles não mostraram nenhum sinal de lamento em arrependimento: Jesus veio cheio de graça e do gozo da libertação, ainda assim eles não manifestaram verdadeiros sinais de alegria. Em vez disso, descobriram maneiras de desacreditar a ambos.
A reprovação que eles lançaram contra João era uma mentira descarada, enquanto o seu clamor contra o Senhor tinha algum elemento de verdade, pois Ele era, no sentido mais forte possível, “Amigo de publicanos e pecadores”; Mas eles deram a isso o pior significado possível, pois quando um adversário lança acusações para desacreditar alguém, ele geralmente acha uma meia verdade ser mais eficaz do que uma total mentira. Enquanto andamos em obediência com uma boa consciência, não precisamos temer a lama que os adversários amam atirar. João, o maior entre os profetas e o próprio Filho do Homem tiveram que suportar isso. Aqueles que eram filhos da sabedoria não foram enganados pelos adversários caluniadores. Eles justificaram a sabedoria e condenaram os adversários. O mesmo fato foi dito em outras palavras quando Jesus disse: “vós não credes porque não sois das Minhas ovelhas... As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz” (João 10:26-27).
Nesse ponto, encontramos o Senhor aceitando o fato de que as cidades da Galileia, onde a maioria de Suas poderosas obras havia sido feitas, definitivamente O haviam recusado. Ali lhes fora prestado um testemunho como Tiro e Sidom e a terra de Sodoma, nunca tiveram. Ora, quanto maior o privilégio, maior a responsabilidade e mais severo é o julgamento quando o privilégio é desprezado e a responsabilidade falha. Um triste destino está reservado para Corazim, Betsaida e Cafarnaum. Seus habitantes naquela época têm que enfrentar o dia do julgamento, e as suas próprias cidades foram de tal forma destruídas que suas localizações são motivo de discussão até hoje. Eles haviam rejeitado “Jesus Cristo, o Filho de Davi, o Filho de Abraão” (Mt 1:1) e, consequentemente, o reino como conferido a Ele.
Mas naquele momento crítico, Jesus repousa sobre o propósito do Pai e sobre a perfeição de Seus caminhos – os meios pelos quais Seu propósito deve ser alcançado. As pessoas cuja indiferença o Senhor havia lamentado eram apenas “os sábios e entendidos” de acordo com os padrões do mundo; mas depois havia os “pequeninos” e, para estes, e não aqueles, o Pai havia revelado as coisas de toda importância naquele momento. Este foi o caminho que Ele teve prazer em aceitar, e Jesus o aceitou com ações de graças. Este sempre tem sido o caminho de Deus, e é o caminho de Deus hoje, como vemos em 1 Coríntios 1:21-31. O propósito de Deus não falhará. O reino como apresentado em Cristo estava prestes a ser rejeitado: Deus estabelecerá o reino de outra maneira completamente diferente, mesmo enquanto aguardamos o estabelecimento do reino com manifestação de poder e glória. Ali serão encontrados aqueles que se colocaram sob o jugo do Filho, e assim gozarão o descanso do reino em suas almas.
O propósito de Deus é que todas as coisas repousem nas mãos do Filho. Para este fim todas as coisas já foram entregues a Ele. No dia vindouro O veremos ordenando todas as coisas em poderoso julgamento discriminador. Hoje Ele está concedendo o conhecimento do Pai. O Filho é tão verdadeiramente Deus, que há n’Ele profundezas insondáveis, conhecidas apenas pelo Pai. O Pai está além de todo conhecimento humano, mas o Filho O conhece e Se manifestou como Seu grande Revelador. É como o Revelador do Pai que Ele diz: “Vinde a Mim ... e Eu vos aliviarei [darei descanso – JND]. Ele descansava no conhecimento do Pai, de Seu amor, Seu propósito, Seus caminhos; e a esse descanso Ele conduz aqueles que vêm a Ele.
Seu convite foi especialmente dirigido a “todos os que estais cansados e oprimidos”, isto é, aqueles que estavam sincera e piamente tentando guardar a lei, que era como Pedro disse, “um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar” (At 15:10). Quanto mais sinceros, tanto mais carregados devem ter sido sob aquele jugo. Então, as palavras do Senhor foram dirigidas aos “filhos da sabedoria”, aos “pequeninos”; em outras palavras, ao remanescente piedoso no meio da massa incrédula do povo. Eles devem agora trocar o fardo pesado da lei pelo jugo leve e suave de Cristo. Eles aprenderiam d’Ele coisas que a lei nunca poderia ensiná-los.
E, além disso, Ele os ensinaria de uma maneira nova. Ele exemplificou as coisas que ensinou. Mansidão e humildade de coração são necessárias se o lugar de sujeição deva ser tomado e mantido; e estas coisas foram perfeitamente vistas n’Ele. Ele era o Filho, e ainda assim “aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” e, tendo essa obediência O levado à morte, Ele “tornou-Se o Autor da salvação eterna para todos os que Lhe obedecem” (Hb 5:8-9 – ARA). Em nosso evangelho, vemos o Obediente nos chamando para a obediência a Si mesmo, uma obediência que não é pesada e que leva ao descanso. “Descanso para as vossas almas” foi proposto como resultado de uma caminhada fiel nas “veredas antigas” da lei (Jr 6:16), mas esse descanso nunca foi alcançado pelos homens. A única maneira de alcançá-lo foi aquela que se fez conhecida pelo Filho, que veio revelar o Pai. O Pai deveria ser conhecido se o Seu propósito devesse ser alcançado.

MATEUS 10


MATEUS 10


No final do capítulo anterior, o Senhor disse a Seus discípulos que orassem pelo envio de trabalhadores. Este capítulo começa com Seu chamado aos doze e os comissionando a sair. Eles mesmos deveriam ser a resposta para a oração deles! Não é raro que esse seja o caso. Quando oramos para que isto ou aquilo seja feito no serviço do Senhor, muitas vezes Sua resposta para nós seria, com efeito: “Então vocês são os que devem fazê-lo”. Agora, para qualquer comissão ser eficaz, deve haver as pessoas selecionadas, o poder conferido e o procedimento correto indicado.
Este capítulo está ocupado exatamente com estas três coisas. Nos versículos 24, temos os nomes dos doze discípulos escolhidos; e no versículo 1 lemos como Jesus conferiu o poder necessário sobre eles. Este poder era eficaz em duas esferas, a espiritual e a física. Espíritos imundos tinham que obedecê-los, e todos os tipos de males corporais desapareciam diante da palavra deles. Do versículo 5 até o final do capítulo, temos o registro das instruções que Ele deu, a fim de que pudessem prosseguir corretamente em sua missão.
O primeiro item de instrução dizia respeito à esfera de seu serviço – nem gentios nem samaritanos, mas apenas as ovelhas perdidas de Israel. Isto de uma vez por todas revela decisivamente que o evangelho hoje não é pregado sob esta comissão. A serviço de uma teoria falsa, o versículo 6 foi mal interpretado para significar que eles deveriam ir aos israelitas espalhados entre as nações. A palavra “perdidas”, no entanto, significa espiritualmente perdidas. Se Jeremias 50 for consultado, e lidos os versículos 6 e 17, será visto que Israel é tanto “perdida” como “dispersa”. Eles estão perdidos porque foram desviados por seus pastores – espiritualmente perdidos. Eles estão espalhados pela ação dos reis da Assíria e Babilônia – geograficamente dispersos. Essa distinção no uso das duas palavras parece ser observada por toda a Escritura. Os discípulos nunca saíram da terra de Israel enquanto Cristo estava na Terra, mas pregaram aos judeus espiritualmente perdidos que estavam ao redor deles.
No versículo 7 a mensagem deles é resumida em 6 palavras – “É chegado o reino dos céus”. Isto está exatamente de concordo com o que foi pregado por João Batista (Mt 3:2), e pelo próprio Senhor (Mt 4:17), exceto que aqui a palavra “Arrependei-vos” é omitida. Era uma mensagem muito simples, dificilmente permitindo muito acréscimo ou variação. Eles não podiam pregar coisas ainda não realizadas; mas o Rei predito estava presente em Sua própria terra e, portanto, o reino estava próximo deles. Que eles anunciaram foram as boas-novas do reino, e eles deveriam apoiar o que disseram, mostrando o poder do reino em trazer gratuitamente cura e libertação.
Além disso, deveriam descartar toda a provisão normal de um viajante prudente, e assim ser manifestamente dependente de seu Mestre para todas as suas necessidades; e, ao entrar em qualquer lugar, deveriam procurar os “dignos”, isto é, aqueles que temiam o Senhor e que manifestavam sua recepção do Mestre pela recepção de Seus servos. Eles deveriam prestar testemunho contra aqueles que não O recebessem, e que consequentemente recusassem a eles e suas palavras; e a responsabilidade de tais seria muito maior que a de Sodoma e Gomorra.
Em seguida, Ele os advertiu claramente que iriam encontrar oposição, rejeição e perseguição, e eles são instruídos quanto à sua atitude na presença dessas coisas. Isso ocupa os versículos 16-39. Ao sair entre os homens, eles seriam como ovelhas no meio de lobos; isto é, eles seriam como seu Mestre em posição, e deveriam ser como Ele também em caráter – prudente e simples. Quando acusados ​​perante os governadores, eles deveriam descansar em Deus como seu Pai, e não se preocupar em preparar sua defesa, visto que na hora de sua necessidade o Espírito do Pai deles falaria neles e por meio deles. O martírio, em alguns casos, jazeria diante deles e, em todos os casos, eles teriam de enfrentar o ódio de um tipo tal que passaria por cima de toda a afeição natural. Para aqueles que não fossem martirizados, a perseverança até ao fim significaria salvação.
O que “ao fim” significa é mostrado no próximo verso (23) – a vinda do Filho do Homem. Em Mateus 24:3, 6, 13-14, novamente temos o Senhor falando do “fim”, com um significado semelhante, pois aí está “o fim dos tempos”. Esta missão então, que o Senhor estava inaugurando, é para se estender até Sua segunda vinda, e quase que não será completada até então. Como o versículo 6 havia indicado, as cidades de Israel eram o campo a ser coberto enquanto eles fossem perseguidos, e sua perseverança seria coroada pela salvação em Sua vinda. Quando olhamos para trás, parece que houve alguma falha nessas previsões. Como podemos explicar isso?
A explicação evidentemente é que esse testemunho da proximidade do reino foi suspenso e será retomado no tempo do fim. Os discípulos são vistos como homens representativos, e o que é dito se aplica a eles naquele momento e se aplicará a outros que estarão em uma posição similar no final dos tempos. O reino, conforme apresentado naquele momento em Cristo em Pessoa, foi rejeitado e, consequentemente, o testemunho foi retirado, como vemos em Mateus 16:20. Ele será retomado quando o granjeio da Igreja estiver completo; e mal será levado ao seu fim quando o Filho do Homem vier para receber e estabelecer o reino, como havia sido predito em Daniel 7.
Enquanto isso, o discípulo deve esperar ser tratado como seu Mestre, e ainda assim ele não precisa ter medo. Ele será denunciado, difamado e até morto por homens; mas nos versículos 26-33, o Senhor menciona três fontes de encorajamento. Primeiro, a luz resplandecerá sobre tudo, e todas as malignidades dos homens serão dispersas. A responsabilidade do discípulo é deixar a luz brilhar agora em seu testemunho. Em segundo lugar, há o cuidado íntimo de Deus, descendo aos mínimos detalhes. Terceiro, há a recompensa de ser publicamente confessado pelo Senhor diante do Pai nos céus. Nada, a não ser a fé, permitirá a qualquer um de nós apreciar e acolher a luz, confiar no cuidado e valorizar mais o louvor de Deus do que o louvor dos homens.
O versículo 28 é digno de nota especial, pois de forma definitiva ensina que a alma não está sujeita à morte, como está o corpo. Deus pode destruir a alma e o corpo no inferno; mas aqui a palavra “destruir” é diferente da palavra “matar”, e significa causar o perecimento, ou a ruína, mas não tem nenhum pensamento de aniquilação. Não encontramos as palavras “a imortalidade da alma” nas Escrituras, mas aqui estão palavras de nosso Senhor que afirmam esse fato solene. As palavras do versículo 34 podem parecer à primeira vista colidir com declarações como as que temos em Lucas 1:79; Lucas 2:14; ou Atos 10:36. Mas não há discrepância real. Deus Se aproximou dos homens em Cristo com uma mensagem de paz, mas Ele foi rejeitado. Neste ponto do evangelho de Mateus, Sua rejeição está surgindo e, portanto, Ele declara o solene fato de que o efeito imediato de Sua aproximação será luta e guerra. A paz na terra será estabelecida por Ele em Sua segunda vinda, e isso os anjos previram e celebraram quando da Sua primeira vinda. A paz é de fato a coisa final, mas a cruz era a coisa imediata; e se Ele estava prestes a tomar a cruz, então Seus discípulos devem estar preparados para a espada e para a perda de suas vidas por amor a Ele. Essa perda, no entanto, significaria ganho final.
Os versículos finais mostram que a recepção dos impopulares discípulos seria, de fato, a recepção do seu impopular Mestre e até mesmo do próprio Deus. Qualquer serviço assim prestado, mesmo que seja uma coisa pequena como a entrega de um copo de água fria, não perderá sua recompensa no dia que virá.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

MATEUS 9


MATEUS 9


Havendo os gadarenos não desejado Sua presença, Ele novamente cruzou o mar, e foi imediatamente encontrado por outros casos de necessidade humana. Em Mateus 9 nos é mostrado como Ele trouxe libertação para o homem paralítico, a mulher doente, a filha de Jairo, os dois cegos e o homem mudo possuído de um demônio – novamente uma exibição quíntupla do poder do reino que se aproximara pela Sua presença.
No primeiro desses casos, o Senhor afirmou claramente a conexão que existia entre o milagre que Ele realizou para o corpo e a bênção espiritual correspondente; uma facilmente vista, e outra invisível. Em resposta à fé dos homens que levaram o paralítico, o Senhor foi diretamente à raiz do mal e declarou perdão dos pecados. Quando isto foi desafiado, Ele provou o Seu poder para perdoar pelo Seu poder para transformar a condição corporal do homem. Seus críticos não podiam perdoar os pecados nem curar a paralisia. Ele podia fazer as duas coisas. A multidão viu e glorificou a Deus.
Nos versículos 9 a 17, recebemos o incidente referente ao próprio Mateus. A transação registrada no versículo 9 pode quase ser chamada de milagre por qualquer um que esteja ciente do poder de apego exercido pelo dinheiro sobre a mente humana. Mateus estava realmente estabelecido em seu escritório de impostos, engajado na tarefa agradável de receber o dinheiro, quando ele ouviu duas palavras dos lábios de Jesus – “Segue-Me”. O “ME” se tornou tão grande aos olhos dele que o dinheiro perdeu seu lugar, e seu encanto quebrado – uma coisa maravilhosa, de fato! Ele se levantou e seguiu a Jesus.
Foi em sua casa que Jesus sentou-Se à mesa com publicanos e pecadores e Seus discípulos; então agora ele estava desembolsando dinheiro em vez de recebê-lo. Os outros evangelistas dizem-nos isto, embora Mateus, com conveniente simplicidade, não o mencione. Todo o procedimento ultrajou os fariseus, mas isso deu ocasião para a declaração concisa quanto à Sua missão. Os fariseus tinham negligenciado a Palavra do Senhor por meio de Oséias, que Ele preferia o exercício da misericórdia à oferta de sacrifícios cerimoniais – uma palavra que muitos fariseus modernos negligenciam – e eles eram ignorantes da Sua missão aos espiritualmente doentes, ao chamar os pecadores ao arrependimento. Se Ele viesse a chamar “os justos”, os fariseus, sem dúvida, teriam se apresentado em multidões; apenas para cada um deles ser rejeitado, uma vez que “os justos”, de acordo com o padrão Divino, não existem.
A questão levantada pelos discípulos de João levou a uma declaração que complementou isso. Tendo chamado os pecadores ao arrependimento, Ele os ligou a Si mesmo como “os filhos das bodas”, e os conduziu a uma posição de liberdade, em contraste com as observâncias legais. Nos dias vindouros de Sua ausência, haveria outro tipo de jejum. Mas não poderia haver uma mistura verdadeira entre aquilo que Ele recentemente havia trazido e o antigo sistema de leis. O novo vinho do reino deve ser colocado em odres novos. Se a tentativa é feita para restringir a expansiva graça do reino dentro de formas legais, o resultado é desastroso. A graça é perdida e o formalismo do judaísmo é arruinado.
Enquanto Ele falava essas coisas, outros incidentes sobrevieram que em certa medida servem como uma ilustração de Suas palavras. Em Seu caminho para ressuscitar a filha de Jairo, interveio a fé resoluta da mulher com um fluxo de sangue. Ela era uma das pessoas doentes que precisava do Médico. Sua ação de fé suspendeu o programado, mas o que era isso para aqu’Ele que Se deleita em misericórdia e não em sacrifício? Sua fé foi reconhecida e ela foi instantaneamente curada. Então, quando o programa foi retomado e a casa de Jairo alcançada, o curso prescrito e usual foi posto de lado por Jesus. As garrafas do costume judaico foram rapidamente quebradas pelo poder de Sua graça. Ele disse: “Retirai-vos [Dai lugar – KJV], e, de fato, tudo tinha que dar lugar ao poder da vida que Ele empunhava: e a criança morta foi restaurada.
Os clamores dos dois cegos (v. 27) tinham o sotaque da fé. Eles O reconheceram como o prometido Filho de Davi. Ele reconheceu a fé deles e desafiou-a. Eles responderam e afirmaram sua crença em Seu poder. Por isso, neste caso, Ele concedeu a oração, de acordo com a fé deles. Ele sabia que a fé deles era real; e sabemos que assim era, pois os olhos deles se abriram imediatamente. Possamos cada um de nós perguntar a nós mesmo: se meus pedidos forem respondidos de acordo com a minha fé; o que devo, então, conseguir?
O pecado reduziu o homem ao desamparo; não apenas tornou-o espiritualmente doente e morto e cego; mas também mudo para com Deus. Amordaçado pelo diabo, ele não pode falar. Quando o homem, no versículo 32, foi trazido a Jesus, o poder demoníaco que estava na raiz foi tratado. A causa sendo atingida, o efeito desapareceu imediatamente. O homem falou e a multidão ficou maravilhada. Eles nunca tinham visto ou ouvido falar de tais libertações como foram lavradas pelo poder do reino em graça. Somente os fariseus eram insensíveis a isso; e não apenas insensíveis, mas totalmente maus. Incapazes de negar o poder, eles intencionalmente se esquivaram de sua força, atribuindo-a ao próprio diabo.
O capítulo termina com o maravilhoso fato de que a perversa rejeição deles à Sua graça não calou Suas entranhas de compaixão. Ele continuou pregando o evangelho do reino e mostrando seu poder em milagres de cura em todas as cidades e aldeias; e a visão das multidões necessitadas apenas O levou à profunda compaixão – a compaixão do coração de Deus. A multidão não tinha pastor e havia uma grande safra para ser colhida. Ele preparou trabalhadores para enviar ao trabalho.

MATEUS 8


MATEUS 8


Após esses três capítulos cheios de Seus ensinamentos, Mateus nos dá dois capítulos ocupados com Suas obras de poder. Não foi suficiente para Ele enunciar os princípios do reino, Ele manifestou o poder do reino em uma variedade de marcantes formas. Existem cinco ilustrações principais desse poder em Mateus 8 e novamente em Mateus 9. Em cada caso podemos dizer que o milagre que o Senhor realizou em conexão com os corpos humanos, ou com coisas visíveis e tangíveis, foi uma prova de como Ele poderia lidar com as coisas mais profundas da alma.
O primeiro caso é o do leproso; uma figura do pecado em seu poder profanador e corruptor. O pobre homem estava convencido do poder de Jesus, mas não totalmente persuadido de Sua graça. No entanto, o Senhor instantaneamente o libertou pelo Seu toque e Sua palavra de poder. Apenas três palavras: “Quero, sê limpo”, e aquilo aconteceu; um testemunho aos sacerdotes – se o homem fez como lhe fora dito – que o poder de Deus estava presente entre eles.
O segundo caso foi o do centurião gentio e seu criado; um caso ilustrando a impotência introduzida pelo pecado. Aqui novamente é enfatizado o poder da Sua palavra. O próprio centurião enfatizou isso, pois ele conhecia o poder de uma palavra autoritária como exemplificado no sistema militar romano. A patente de centurião não era alta, mas os que estavam sob ele obedeciam imediatamente a suas instruções, e sua fé descobriu em Jesus aqu’Ele cuja palavra poderia realizar o milagre. O Senhor reconheceu sua fé como sendo grande e além de tudo o que havia encontrado em Israel; Ele falou a palavra necessária e o servo foi curado. Ele também profetizou que muitos gentios de longe entrariam no reino com os patriarcas de Israel, enquanto aqueles que consideravam o reino como seus por direito prescrito seriam lançados nas trevas exteriores.
O terceiro caso é o da sogra de Pedro. Aqui seu toque imediatamente a curou; não há registro de que Ele tenha falado uma palavra sequer. Pode ser o Seu toque e a Sua palavra, como com o leproso; ou apenas a Sua palavra, como com o servo do centurião; ou apenas Seu toque: o resultado em cada caso foi o mesmo – livramento instantâneo. Não houve um período de recuperação dos resultados da febre; Ela imediatamente se levantou e serviu os outros. O pecado produz um estado febril de espírito e alma, mas o Seu toque dissipa-o.
Nos versículos 16 e 17, temos primeiro um resumo de Suas muitas obras de poder e misericórdia ao entardecer; e segundo, a citação de Isaías 53, que nos revela a maneira e o espírito em que Ele fez essas coisas. As palavras citadas têm sido usadas erroneamente por alguns como se quisessem dizer que na cruz Ele levou nossas doenças, e assim o crente nunca deveria estar doente. A correta aplicação é encontrada aqui. Ele não aliviou os homens sem antes sentir suas tristezas e doenças. Ele provou em Seu espírito o peso dos próprios males que Ele curou por Seu poder.
Os incidentes registrados nos versículos 18-22 nos mostram que não apenas nossa libertação, mas nosso discipulado também deve ser ao chamado da Sua palavra mandatória. Certo escriba voluntariou-se para O seguir sem ter recebido Seu chamado. O Senhor imediatamente mostrou-lhe o que estaria envolvido em seguir Alguém tal como Ele mesmo, pois Ele era o Filho do Homem sem lar. Mas, de outro modo, Seu chamado é suficiente. Alguém que já era um discípulo queria colocar um dever terrestre em primeiro lugar. O chamado e a reivindicação do Mestre devem ser absolutamente supremos. Ele tinha discípulos que reconheceram Sua reivindicação e O seguiram, como mostra o versículo 23, e deram a Ele um lugar para recostar Sua cabeça no barco deles. No entanto, mesmo assim, segui-LO, levou-os a problemas.
Isso nos leva ao quarto desses casos impressionantes – a tempestade no lago; típico de como o poder do diabo chicoteia com fúria o inquieto mar da humanidade. Tudo aquilo nada era para Ele e assim dormia pacificamente. Mas, ao clamor dos discípulos, Ele Se levantou e desferiu Seu comando sobre essas poderosas forças da natureza. Como um homem comanda seu cão de caça, e este, obediente, se submete junto a seus pés, assim também o vento e o mar se submetem à palavra de seu Criador.
Chegando ao outro lado Ele foi confrontado por dois homens que eram dominados por servos demoníacos do diabo. Um deles era uma fortaleza especial, mantida por toda uma legião de demônios, como Marcos e Lucas nos mostram; embora evidentemente houvesse dois, e assim um testemunho suficiente foi rendido ao Seu poder sobre o inimigo. Os demônios O conheciam e também sabiam que não tinham poder para resistir à Sua palavra: por isso pediram permissão para entrar na manada de imundos porcos, que nunca deveria ter estado lá se Israel andasse segundo a lei. Até onde a narração registra, Jesus falou apenas uma palavra – “Ide”! Como resultado, os homens foram libertos e os porcos destruídos.
Até aqui consideramos o poder do Senhor. Antes de deixar o capítulo, notemos a reação do lado dos homens. Há um contraste marcante entre a “tanta fé” do centurião e a “pouca fé” dos discípulos na tempestade. A “tanta fé” foi marcada por duas coisas vistas no versículo 8. Ele disse: “não sou digno”, condenando a si mesmo e, assim, excluindo-se da questão. Ele também disse: “dize somente uma palavra” ao dirigir-se ao Senhor. Ele não tinha opinião de si mesmo, mas ele tinha uma grande opinião sobre Ele – tão grande que ele estava preparado para acreditar em Sua palavra sem qualquer apoio externo. Algumas pessoas querem ter a palavra do Senhor apoiada por sentimentos, ou pela razão, ou pela experiência, mas a grande fé é produzida pela descoberta em Jesus de uma Pessoa tão grande que a Sua palavra pura é suficiente.
Com os discípulos, foi exatamente o oposto. Eles estavam pensando completamente a si mesmos. Disseram: “Salva-nos que (nós) perecemos” Quando Jesus acalmou a tempestade eles ficaram espantados, dizendo: “Que homem é Esse?” Sim, Quem era Esse, de fato? Se eles realmente O conhecessem, ficariam surpresos se Ele não tivesse afirmado Seu poder. O fato era que eles tinham grandes pensamentos sobre si mesmos e apenas pequenos pensamentos sobre Ele; e isso é pouca fé. Então eles se maravilharam enquanto Ele agia; enquanto que no caso do centurião Jesus Se maravilhou com a fé dele. Apesar da pouca fé deles, no entanto, eles O amavam e O seguiam.
No início do capítulo, vemos a fé deficiente da parte do leproso. Ele viu claramente o poder de Jesus, mas pouco percebeu da Sua disposição. No final do capítulo, vemos homens sem fé alguma.
Eles não ponderavam o fato de que os demônios haviam sido desalojados, pois um livramento espiritual significava pouco para eles. O que importava para eles era a perda de seus porcos. Eles não apreciavam Jesus, mas apreciavam os porcos! Uma adequada figura dos homens do mundo que têm olhos para qualquer ganho material, mas nenhum coração para Cristo. Eles evidentemente não conseguiram nada, mas todos os outros conseguiram. Não deixe escapar o prazeroso fato de que a fé deficiente e a pouca fé receberam a bênção tão real e plenamente quanto a grande fé. A bênção não está de acordo com a qualidade ou quantidade de fé, mas de acordo com Seu coração de graça.

MATEUS 7


MATEUS 7


Os ensinamentos do Senhor, registrados em Mateus 6, foram delineados para conduzir Seus discípulos a tais relações com o Pai celestial deles, a fim de que Ele pudesse encher os seus pensamentos, quer em relação às suas esmolas, suas orações, seus jejuns ou suas atitudes em relação às posses e necessidades desta vida. Mateus 7 inicia com ensinamentos que regulariam suas relações com seus irmãos e até mesmo com os ímpios.
O julgamento de nosso irmão é uma tendência muito profunda em nosso coração. O julgamento das coisas, ou do ensino, não é proibido, mas encorajado – como vemos, por exemplo, em 1 Coríntios 2:15, 10:15 – mas o julgamento de pessoas é proibido. A Igreja é chamada a julgar aqueles que são dela, em certos casos, como 1 Coríntios 5 e 6 mostram, mas, afora isso, o julgamento das pessoas é uma prerrogativa do Senhor. Se, apesar da proibição do Senhor, nos entregamos a isso, duas penas certamente se seguirão, como Ele indica aqui. Primeiro, nós mesmos seremos julgados, e seremos medidos exatamente da maneira com que medimos os outros. Em segundo lugar, seremos arrastados para a hipocrisia. Assim que começamos a julgar os outros, ficamos cegos para com nossos próprios defeitos. O mínimo defeito em nosso irmão torna-se magnificado para nós, e ficamos totalmente inconscientes de que temos um grande defeito de uma natureza que vai prejudicar nossa visão espiritual. A forma de julgamento mais proveitosa para cada um de nós é o julgamento próprio.
O versículo 6 tem em vista o ímpio, insensível ao que é bom e imundo em suas preferências. Coisas que são santas e preciosas não são para eles; e, se tolamente as apresentamos a eles, elas são desprezadas e podemos sofrer sua violência. É certo que devemos ser doadores das coisas santas de Deus; mas não para tais.
Mas, se quisermos ser doadores, devemos primeiro receber, e disso falam os versículos 7-11. Para receber, devemos nos aproximar de Deus – pedindo, buscando, batendo. Uma resposta de nosso Pai é certa. Se pedirmos as coisas necessárias, nós as obteremos, pois Ele não nos dará algo sem valor, como uma pedra, ou prejudicial como uma serpente. Podemos ter certeza de que Ele nos dará “boas coisas” (ARA), pois Sua Paternidade é do céu. Seu padrão, portanto, não ficará abaixo do padrão da paternidade terrena. Podemos aplicar Isaías 55:9 a isto, e dizer que, como os céus são mais altos do que a Terra, os Seus pensamentos Paternos são mais elevados do que os nossos pensamentos. Nós, necessariamente, não podemos chegar ao Seu padrão. Por isso, no versículo 12, o Senhor não exigiu dos discípulos um padrão acima do estabelecido pela lei e pelos profetas.
Nos versículos 13 e 14, o Senhor evidentemente olhou para além de Seus discípulos – para a multidão. Diante dela havia as alternativas do caminho largo e do caminho estreito, da destruição e da vida. Não podemos dizer que a graça de Deus é estreita, pois ela veio para todos os homens; é o caminho do julgamento próprio e arrependimento que é tão estreito. Poucos encontram esse caminho e poucos o proclamam. A maioria dos pregadores prefere profetizar coisas mais suaves.
A advertência contra os falsos profetas se segue. Eles não devem ser conhecidos por suas belas palavras, mas por seus frutos. O fruto é o resultado e a expressão mais alta da vida, e revela o caráter da vida que o produz. O falso profeta tem uma vida falsa, que deve revelar-se em falso fruto.
Mas não há apenas falsos profetas, mas falsos discípulos – aqueles que à alta voz professam lealdade ao Senhor, mas o vínculo vital da fé está faltando. A fé vital, como nos diz o apóstolo Tiago, deve expressar-se em obras. Todos, que realmente estão sob o Senhorio de Cristo em fé, devem necessariamente estar dispostos a fazer a vontade do Pai nos céus, a Quem Ele (Jesus) apresentou. Judas Iscariotes nos fornece um exemplo terrível dos versículos 22 e 23. Evidentemente, ele realizou obras de poder junto com os outros discípulos, mas ficou provado afinal que nenhum vínculo de verdadeira fé jamais existiu e que ele era apenas um obreiro de iniquidade.
E, portanto, o Senhor concluiu Suas palavras com a parábola das duas casas. Ambos os construtores, o prudente e o insensato, eram ouvintes das palavras de Jesus, mas apenas um deles as praticava – e esse era o homem prudente. A parábola não ensina a salvação pelas obras, mas a salvação pela fé viva que conduz às obras. Se lançarmos nossas mentes de volta para o Sermão da Montanha, perceberemos imediatamente que nada além de fé genuína n’Ele pode induzir alguém a fazer as coisas que Ele ensinou. Também perceberemos quão plenamente Seus ensinamentos comprovaram Sua própria palavra em Mateus 5:17. Ele nos deu a plenitude da lei e dos profetas, enquanto acrescentava nova luz em relação ao Pai nos céus; Preparando assim o caminho para a mais completa luz da graça que estava por nascer como o fruto da Sua morte e ressurreição. A autoridade com a qual Ele anunciou essas coisas foi o que chocou o povo. Os escribas confiaram nos ensinos rabínicos primitivos, enquanto Ele falava das coisas que Ele sabia de e com Deus.

MATEUS 6


MATEUS 6


Tendo introduzido Seus discípulos a Deus nesta nova luz no final de Mateus 5, notamos que todo o ensinamento em Mateus 6 está relacionado com isso. A expressão “vosso pai”, com ligeiras variações, ocorre pelo menos doze vezes. O ensino se divide em quatro seções: esmola (1-4), oração (5-15), jejum (16-18), posses terrenas e as coisas necessárias à vida (19-34). Todas as quatro coisas tocaram a vida prática do judeu em muitos pontos, e sua tendência e hábito era se ocupar das três primeiras de uma maneira técnica e superficial, e colocar toda a ênfase e prestar toda a atenção ao quarto item. O Senhor Jesus coloca todos sob a luz que Suas palavras anteriores haviam derramado. No capítulo 5, Ele lhes mostrara um Deus que lida com os movimentos interiores do coração tanto quanto com ações exteriores, e ainda assim que Deus deve ser conhecido como um Pai celestial. Ainda notamos como Ele repete: “Eu vos digo”. Ele não ensina como os escribas fizeram, baseando suas afirmações nas tradições dos antigos, mas temos que aceitar o que Ele diz, apenas porque foi Ele Quem falou.
Se a tradição nos governa, podemos facilmente entrar na mesma posição na qual os judeus foram encontrados em relação às suas esmolas, suas orações e seus jejuns. Para eles, tudo se tornara uma questão de observância exterior, como atendendo aos olhos e ouvidos dos homens. Se nós, por outro lado, elevarmos nossos pensamentos para o Pai nos céus, Quem tem uma íntima preocupação conosco, tudo deve se tornar real e vital, e ser feito para os Seus ouvidos e os Seus olhos. Três vezes o Senhor diz do mero formalista: “Já receberam seu galardão [recompensa – ARA]”. Sua recompensa é a aprovação e louvor de seus semelhantes. Isso eles têm; é tudo no presente e não há mais nada por vir. Aquele que dá ou ora ou jejua desconhecido dos homens, mas conhecido por Deus, será recompensado publicamente no dia vindouro.
Quanto à oração, Ele ensina não apenas privacidade, mas brevidade, aquilo que se assenta no âmago da realidade. Um homem, que pede com intensa realidade e sinceridade, inevitavelmente vai direto ao ponto com o menor número de palavras. Ele possivelmente não vagará no labirinto de circunlocuções[1]. Os versículos 9-13 nos dão a oração modelo, exatamente adequada aos discípulos em suas circunstâncias. Existem seis petições. As três primeiras têm a ver com Deus; Seu nome, Seu reino, Sua vontade. As três seguintes têm a ver conosco; nosso pão, nossas dívidas, nossa libertação. O Pai celestial e Suas reivindicações devem ser os primeiros, e as nossas necessidades em segundo lugar. A bênção dos homens na Terra depende de Sua vontade ser feita na Terra, e isso só acontecerá quando o Seu reino for estabelecido.
O perdão mencionado nos versículos 14 e 15 está relacionado com as dívidas do versículo 12. No santo governo do Pai celestial com Seus filhos, o espírito não perdoador encontra o Seu castigo. Se alguém cometer uma ofensa contra nós e nos recusarmos a perdoar, perderemos o perdão governamental de Deus. Não se trata aqui de perdão por toda a eternidade, visto que aqueles a quem o Senhor falava eram discípulos, com quem aquela grande questão já estava resolvida.
Palavras muito esquadrinhadoras quanto às posses terrenas são faladas em seguida. Nenhuma tendência é mais profunda com todos os homens do que perseguir, abraçar e ajuntar tesouros na Terra, embora se deteriorem sob a ação de forças naturais, assim como a ação de homens violentos. Se realmente conhecermos o Pai nos céus, encontraremos nosso tesouro no céu e lá nosso coração estará; e temos apenas que ter o olho simples para ver isso e ver claramente todo o mais. Então também nossos corpos se tornam cheios de luz: isto é, nos tornamos nós mesmos luminosos. Seremos dominados por Deus ou por mamom, pois não podemos servir a dois senhores. Deus e mamom são totalmente opostos.
Ao servir a Deus, que é de fato um Pai celestial, ficamos sob Seu cuidado atento e bondoso. Ele conhece todas as nossas necessidades e Se preocupa com elas. Somos impotentes; incapazes de acrescentar um côvado à nossa estatura, ou de nos vestir como a erva do campo. Nosso Pai tem sabedoria e poder infinitos, e cuida das mais humildes criaturas de Sua mão: podemos, portanto, ter absoluta confiança em Seu amoroso cuidado por nós. Assim, devemos estar livres de toda ansiedade de cuidado. Os homens do mundo estão se agarrando aos tesouros deste mundo que se deterioram tão rapidamente, e eles estão cheios de cuidado quanto à sua preservação e uso. Devemos estar descansando sob o cuidado e amor de nosso Pai e, portanto, livres da ansiedade.
Agora isso é principalmente negativo. Devemos estar livres da ansiedade de cuidado que enche tantos corações; mas isso é para que possamos estar livres para buscar o reino de Deus e para buscá-lo primeiro. Em vez de perscrutar o amanhã com apreensão, devemos nos encher hoje das coisas do reino e esse reino nos guia nos caminhos da justiça.
Este foi o prazer de Deus para os discípulos que seguiram nosso Senhor durante Seus dias na Terra: não é nada menos do que o Seu prazer para nós que O seguimos agora do que Sua obra estar totalmente consumada e ele ter ido para os céus. O espírito que Ele inculcou foi muito estranho à religião do fariseu de Seus dias, assim como também é estranho à religião exterior e mundana de hoje.


[1] N. do T.: Circunlocuções significa o uso de muitas ou excessivas palavras para exprimir algo de modo indireto, ou por alusões ou referências vagas; fala ou escrita em que se rodeia um assunto, sem ir diretamente ao ponto.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

MATEUS 5


MATEUS 5


O Senhor começou então a falar aos Seus discípulos, embora na presença da multidão, instruindo-os nos princípios do reino. Primeiro de tudo Ele mostrou que tipo de pessoa vai possuir o reino e desfrutar de seus benefícios. Nos reinos dos homens hoje, alguém precisa de muita confiança própria e ousadia para ser um sucesso, mas o oposto é o que vale para o reino dos céus. Isso já havia sido indicado no Velho Testamento: o Salmo 37, por exemplo, especialmente o versículo 11, mostra isso claramente; no entanto, o Senhor aqui nos dá uma visão muito mais ampliada deste fato. Ele realmente esboça para nós uma imagem moral do remanescente piedoso que finalmente entrará no reino. Ele menciona oito coisas, começando com a pobreza de espírito e terminando com a perseguição, e há uma sequência em sua ordem. O arrependimento produz pobreza de espírito e é onde todos devem começar. Então vem o choro e a mansidão induzida por uma verdadeira visão de si mesmo, seguida por uma sede pela justiça que só é encontrada em Deus. Então, cheio disso, o santo exterioriza o próprio caráter de Deus – misericórdia, pureza, paz. Mas o mundo não quer Deus ou o Seu caráter, portanto a perseguição fecha a lista.
A bênção, contemplada nos versículos 3-10, deve ser plenamente realizada no reino dos céus, quando for estabelecido na Terra. Em cada bem-aventurança, salvo a última, o piedoso é descrito de maneira impessoal: nos versículos 11 e 12, o Senhor fala pessoalmente aos Seus discípulos. O “deles” do versículo 10 mudam para o “vós” do verso 11; e agora, falando aos Seus discípulos, a recompensa no céu é prometida. Ele sabia que esses Seus discípulos deveriam passar para uma nova e celestial ordem de coisas, e assim, enquanto reafirmava as coisas antigas sob uma luz mais clara, Ele começou a indicar algumas das novas coisas que estavam prestes a acontecer. A mudança nesses dois versículos é impressionante e ajuda a mostrar o caráter do “Sermão da Montanha”, no qual o Senhor resumiu Seu ensino e relacionou-o com as coisas antigas dadas por meio de Moisés. Em João 13-16, que podemos chamar de “O Sermão no Cenáculo”, nós O encontramos expandindo Seu ensino e relacionando-o com a plena luz que Ele daria quando o Espírito Santo viesse.
Na perseguição por Sua causa, Seus discípulos deveriam ser abençoados, e eles deveriam reconhecer isso e se regozijar. Naturalmente nos afastamos da perseguição, mas a história prova a verdade dessas palavras. Aqueles que estão identificados com Cristo de forma plena e ousada têm que sofrer, mas são sustentados e recompensados; enquanto aqueles que tentam se esquivar por meio de concessões, perdem todas as recompensas e são miseráveis. E, além disso, é quando o discípulo é perseguido pelo mundo que definitivamente ele se torna “o sal da Terra” e “a luz do mundo”. O sal preserva e a luz ilumina. Não podemos ser como o sal saudável na Terra se somos da Terra. Não podemos ser como uma luz levantada no mundo se somos do mundo. Agora, nada mais ajuda a nos manter distintos e separados da Terra e do mundo do que a perseguição do mundo, não importa de que forma seja. Perseguido por amor de Cristo, o discípulo é verdadeiro sal com que se salga, e ele também emite um máximo de luz. Esta palavra de nosso Senhor não nos revela o segredo de grande parte de nossa fraqueza?
Note também que a luz deve brilhar nas coisas práticas, não apenas nas coisas teológicas. Não é que os homens reconheçam a luz em nossos ensinamentos claros ou próprios expressos em palavras, mas sim em nossos atos e obras. Eles certamente devem ouvir nossas boas palavras, mas devem ver nossas boas obras, se quisermos ser luz para eles. A palavra “boas” aqui não significa exatamente benevolente, mas sim corretas ou honestas. Tais ações encontram sua fonte no Pai no céu: elas derramam Sua luz e glorificam-No.
Do versículo 17 ao final de Mateus 5 encontramos o Senhor dando a conexão entre o que Ele ensinou e aquilo que havia sido dado por meio de Moisés. Ele não veio anular ou destruir o que havia sido dado anteriormente, mas sim dar a plenitude dela – pois tal é o significado aqui da palavra “cumprir”. Ele corroborou e aplicou tudo o que havia sido dito, como os versículos 18 e 19 mostram, e nem uma palavra que Deus havia falado estava para ser quebrada. E, além disso, como mostra o verso 20, Ele insistiu que a justiça que a lei exigia tinha nela uma plenitude que excede em muito qualquer coisa conhecida ou reconhecida pelos superficiais escribas e fariseus de Seu dia. Eles prestavam uma obediência técnica em questões cerimoniais e ignoravam o verdadeiro espírito da lei e o objeto que Deus tinha em vista. Sua justiça não conduzia para o reino.
Consequentemente, Ele procedeu para mostrar que havia uma plenitude de significado nas exigências da lei que os homens não tinham suspeitado, referindo-Se a nada menos que seis pontos, como ilustrando Seu tema. Ele falou do sexto e sétimo mandamentos; então da lei quanto ao divórcio em Deuteronômio 24:1, em seguida, quanto aos juramentos em Levítico 19:12; então da lei da retribuição como dada em Êxodo 21:24 e em outros lugares; e, finalmente, e finalmente, da autorização ao ódio contra os inimigos como é encontrado em Deuteronômio 23:6.
Quanto aos dois mandamentos que Ele citou, Seu ensinamento evidentemente é que Deus tem em conta não apenas ao ato evidente, mas também à disposição interior do coração. O que é proibido não é meramente o ato do homicídio ou adultério, mas o ódio e a concupiscência dos quais o ato é a expressão. Julgados por esse padrão, quem vai se colocar diante das santas demandas do Sinai? A “justiça” do escriba e fariseu colapsa completamente com tudo isso. No entanto, em ambos os casos, tendo exposto esse fato, Ele acrescentou mais algumas instruções.
Nos versículos 23-26, Ele mostrou duas coisas de importância: Em primeiro lugar, que nenhuma oferta é aceitável por Deus se for apresentada enquanto houver injustiça para com o homem. Não podemos tolerar o mal em relação ao homem pela professa piedade para com Deus. Somente quando a reconciliação for efetuada, poderá haver aproximação a Deus. Então, em segundo lugar, se a questão que causa a desavença é levada à lei, a lei deve seguir seu curso apartado da misericórdia. As palavras do Senhor aqui, sem dúvida, têm significado profético. A nação judaica estava prestes a processar o caso deles contra Ele, transformando-O em seu “adversário”, e isso resultará em sua condenação. Eles ainda nem pagaram o último “ceitil [centavo – ARA].
Então, no próximo exemplo: aqui Ele nos mostra que qualquer sacrifício vale a pena, se leva a uma libertação do inferno que se coloca no final.
Nos terceiro e quarto casos (31-37) Ele novamente nos mostra que o que foi ordenado por meio de Moisés não expressou a plena mente de Deus. Tanto o divórcio quanto o juramento eram permitidos e, portanto, o padrão que os homens tinham de alcançar não era muito severo. Ambas as questões são aqui colocadas sob uma luz mais completa, e vemos que apenas uma coisa deve ser permitida para dissolver o vínculo matrimonial; e então que a palavra dos homens deve ser tão inequívoca e obrigatória, que tomar juramentos fortes, por isto ou por aquilo, não é necessário. O homem, que apoia quase todas suas afirmações por um juramento, é um homem cuja simples palavra não é confiável.
Então, novamente, a lei estipulou que os ferimentos infligidos fossem retribuídos por ferimentos do mesmo tipo. Ela ordenou o que podemos chamar de “pagar na mesma moeda”; enquanto também requeria amor ao próximo, permitia o ódio contra um inimigo. O Senhor reverteu tudo isso. Ele inculcou[1] a tolerância e a graça que dá, ao invés de alguém insistir em seus direitos; e também o amor que bendirá e fará bem ao inimigo. E tudo isso para que Seus discípulos sejam bem distintos dos pecadores do mundo e se manifestem no caráter do próprio Deus.
Deus é apresentado a eles não como Jeová, o Legislador, mas como “vosso Pai que está nos céus”. Isto é, Ele agora é apresentado sob uma nova luz. É isso que governa os ensinamentos do Senhor aqui, pois se O conhecermos dessa maneira nova, descobriremos que Ele Se destaca pela benevolência para com os injustos e os maus, e devemos ser, em nossa medida, o que Ele é. No ministério de Jesus, uma nova revelação de Deus estava surgindo, e isso resultou num novo padrão de perfeição. Devemos nos manifestar praticamente como filhos de nosso Pai nos céus, pois a perfeição de um filho é para ser como a do Pai.
Oito vezes Ele diz neste capítulo: “Vos digo que”, e em seis dessas ocasiões essas palavras são precedidas pela palavra “Porém”, colocando Sua prescrição em contraste com o que a lei havia dito anteriormente. Podemos muito bem perguntar: “Quem é Esse que cita a santa lei de Deus e depois diz calmamente: ‘Eu, porém, vos digo’ – assim e assim? Ele na verdade altera e amplia a lei, algo que nenhum profeta jamais se atreveu a fazer! Isso não equivale a uma terrível presunção, beirando a blasfêmia?” Sim, verdadeiramente, e apenas uma única explicação tirará essa acusação de sobre Ele. Mas essa única explicação é verdadeira: aqui temos o autêntico Legislador, que uma vez falou do Sinai. Agora Ele veio em Humanidade, como Emanuel. Emanuel subiu em outra montanha e agora fala não a uma nação, mas a Seus discípulos. Ele tem todo o direito de ampliar ou reformar Sua própria lei.


[1] N. do T.: Significado: Ensinar e imprimir algo no espírito de outro por frequentes repetições e admoestações.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

MATEUS 4


MATEUS 4


Jesus não estava apenas tomando o lugar do homem, Ele estava mais particularmente assumindo o lugar de Israel. Israel foi chamado desde o Egito, então eles foram batizados a Moisés na nuvem e no mar, então entraram no deserto. Acabamos de ver Jesus como o Filho de Deus chamado desde o Egito, e agora Ele é batizado; então, ao abrirmos o capítulo 4, encontramos o Espírito que havia descido sobre Ele O conduzindo diretamente ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Aqui encontramos um contraste, pois no deserto, Israel tentou Deus e falhou em tudo. Jesus foi tentado e triunfou em tudo.
No entanto, as tentações com as quais o diabo O assaltou eram semelhantes às provas de Israel no deserto, pois nada há de novo nas táticas do adversário. Israel foi testado pela fome e pela rebelião em conexão com as coisas de Deus – vista mais particularmente em conexão com Coré, Datã e Abirão – e por atrações que poderiam levá-los a adorar e servir a outro além de Jeová, e eles caíram, adorando o bezerro de ouro. Jesus refutou cada tentação com a Palavra de Deus. Em cada ocasião, Ele citou uma pequena porção do livro de Deuteronômio, em que Israel é lembrado de suas responsabilidades. Nessas responsabilidades eles falharam e Jesus as cumpriu perfeitamente em todos os aspectos.
O diabo sempre semeia dúvidas da Palavra Divina. Compare os versículos 3:17 com o 4:3, 6 de Mateus e observe como isso é impressionante. Tão logo Deus disse: “Este é o Meu Filho amado”, o diabo diz duas vezes: “Se Tu és o Filho de Deus”. A pequena palavra “se” é uma grande favorita do diabo! Jesus o enfrentou apropriadamente com a Palavra de Deus. Essa Palavra é tão indispensável para a vida espiritual do homem, como o pão é para sua vida natural. E o homem precisa de cada palavra que Deus falou, e não apenas algumas passagens especiais.
Todos nós estamos encontrando nossa vida espiritual em “toda Palavra que sai da boca de Deus”?
A tentação de Jesus pelo diabo deixa claro, além de qualquer dúvida, que o diabo existe em pessoa. Desde os dias de Gênesis 3, ele estava acostumado a seduzir os homens apelando para suas concupiscências e orgulho. Em Jesus, ele encontrou aqu’Ele que não tinha concupiscência nem orgulho, e que resistiu a todos os seus ataques pela Palavra de Deus; derrotado consequentemente, ele teve que deixá-Lo. Seu conquistador era um verdadeiro Homem, que jejuara quarenta dias e quarenta noites, e os anjos ministravam a Ele. Eles nunca haviam servido seu Deus dessa forma maravilhosa.
Ao ser João lançado na prisão, como o versículo 12 nos mostra, esse evento levou o Senhor a entrar plenamente em Seu ministério público. Deixando Nazaré, Ele assumiu Sua morada em Cafarnaum, e a profecia de Isaías encontrou seu cumprimento, em todos os aspectos, em relação ao Seu primeiro advento. Se lermos a passagem (Is 9:1-7), notaremos que ambos os adventos estão em vista, como frequentemente é o caso. Sua vinda brilhou como uma estrela diante dos profetas, mas eles ainda não sabiam que era uma estrela dupla. A Galileia ainda verá a grande luz de Sua glória, assim como eles viram a grande luz de Sua graça. O precursor foi silenciado pelo aprisionamento, Jesus assumiu e compeliu Sua mensagem de arrependimento em vista do reino estar próximo. O evangelho de João nos mostra que o Senhor estava ativo no serviço antes desta época. Ele tinha discípulos e visitou a Judeia quando “ainda João não tinha sido lançado na prisão” (Jo 3:24).
Sendo assim, o chamado de Pedro, André, Tiago e João não foi o começo de seu conhecimento d’Ele. Isso veio antes e está registrado em João 1. Evidentemente também houve ocasiões em que eles ou outros discípulos foram ter com Ele antes de serem definitivamente chamados a deixar suas ocupações seculares e entregar todo o seu tempo a Ele. Ao segui-Lo, esses pescadores seriam feitos pescadores de homens. Por meio de diligência e estudo, homens podem se fazer bons pregadores, mas pescadores dos homens só são feitos por Ele. Ele era Supremo nisto em Si mesmo e andando em Sua companhia, eles aprenderiam d’Ele e captariam Seu espírito.
Nos três versículos que encerram o capítulo 4, Mateus resume os primeiros dias de Seu ministério. Sua mensagem era “o evangelho do reino”. Deve ser distinguido do “evangelho da graça de Deus”, que está sendo pregado hoje. Isto tem a morte e ressurreição de Cristo como seu grande tema, e anuncia o perdão como o fruto da expiação que Ele fez. Essas eram as boas-novas que o reino, predito pelos profetas, estava agora trazendo para eles por meio d’Ele. Se eles se submetessem à autoridade divina que estava investida n’Ele, o poder do reino estaria ativo em favor deles. Como prova disso, Ele mostrou o poder do reino ao curar os corpos dos homens. Todo tipo de mal físico e doença foi removido – a garantia de que Ele poderia curar todo mal espiritual. Essa demonstração do poder do reino, juntamente com a pregação do reino, mostrou-se muito atraente e grandes multidões O seguiram.


MATEUS 3


MATEUS 3


O terceiro capítulo apresenta João Batista sem quaisquer preliminares quanto ao seu nascimento ou origem. Ele cumpriu a profecia de Isaías; ele pregou no deserto, longe do habitat dos homens; em roupas e alimentos, estava separado dos costumes dos homens; Seu tema era arrependimento, em vista da proximidade do reino dos céus. Foi um ministério muito singular. Que outro pregador escolheu um deserto como a esfera geográfica de seu ministério? Filipe, o evangelista, foi de fato ao deserto do sul para encontrar um indivíduo especial; mas o poder de Deus foi tal com João que as multidões se reuniram a ele e foram levadas ao seu batismo, confessando seus pecados.
Neste evangelho há uma menção frequente do “reino dos céus” e que, pela primeira vez, estava aqui. Nenhuma explicação é oferecida por Mateus, nem ele registra qualquer explicação sendo oferecida por João; a razão é, sem dúvida, que a vinda de um dia quando “o Deus do céu” deveria estabelecer um reino, e todos devem ver que “o céu reina [os céus dominam – TB], havia sido previsto no livro de Daniel. Consequentemente, o termo não seria desconhecido para seus ouvintes ou para qualquer leitor judeu. O mesmo profeta teve uma visão do Filho do Homem vindo com as nuvens do céu e tomando o reino, e os santos possuindo-o com Ele. Agora o reino estava à mão na medida em que “Jesus Cristo, Filho de Davi”, foi achado entre os homens.
Quando há uma obra genuína e poderosa de Deus, os homens não gostam de se afastar dela, especialmente se eles são líderes religiosos; consequentemente, encontramos fariseus e saduceus vindo ao batismo de João. Ele os encontrou, no entanto, com uma visão profética. Ele os desmascarou como tendo as características das víboras, e os advertiu que a ira jazia diante deles. João sabia que eles se orgulhariam de ser a própria sucessão abraâmica, então derrubou o suporte onde se apoiavam, mostrando que ela não tinha valor diante de Deus. Nada teria valor a não ser o arrependimento, e seu batismo era em vista disso; mas deveria ser genuíno e manifestar-se em frutos que fossem adequados. Tiago, em sua epístola, insiste que a fé, se for real e viva, deve se expressar em obras adequadas. Aqui João exige exatamente a mesma coisa em relação ao arrependimento.
Esses versículos na metade de Mateus 3 nos dão um vislumbre do que estava errado. O verdadeiro Filho de Davi e de Abraão tinha chegado, o reino estava próximo e nenhuma mera conexão com a sucessão com Abraão valeria. Moisés lhes dera a lei: Elias os havia chamado de volta a ela, depois de ter sido abandonada: João simplesmente emitiu um contundente chamado ao arrependimento, o que equivalia a dizer: “Com base na lei você está perdido e nada resta senão para você honestamente se apegar ao arrependimento com humilde tristeza de coração”. Mas, para sua ruína, a grande massa deles não estava preparada para isto.
João também anunciou a vinda daqu’Ele que é Poderoso, e de Quem João era o precursor. Não havia comparação entre eles, e ele confessou seu sentimento dizendo que não estava em condições de sequer levar Suas sandálias dos pés. Ele também contrastou seu próprio batismo com a água e o batismo com o Espírito Santo e fogo. A vinda daqu’Ele Grande exerceria discriminação perfeita, peneirando o trigo do joio. O trigo Ele batizará com o Espírito Santo e o joio com o fogo do julgamento; e as questões serão eternas porque o fogo será inextinguível.
Estas palavras de João devem ter sido tremendamente indagadoras e serão cumpridas quando a era milenar estiver prestes a ser introduzida. Então o Espírito será derramado sobre toda a carne, e não somente o judeu – isto é, sobre todos os que foram redimidos. Por outro lado, os ímpios serão banidos para o fogo eterno, como o final do evangelho de Mateus, no capítulo 25 nos mostrará. Enquanto isso houve um cumprimento antecipado do batismo do Espírito, no estabelecimento da Igreja, como mostra Atos 2. O contexto aqui decisivamente revela que o “fogo” é uma alusão ao julgamento, e não às línguas de fogo no dia de Pentecostes, ou qualquer ação similar de bênção.
Quando Jesus veio para o Seu ministério, Seu primeiro ato foi vir ao batismo de João, apesar da objeção que João expressou. A objeção serviu para revelar o princípio sobre o qual o Senhor estava agindo. Ele estava cumprindo a justiça. Ele não tinha pecados para confessar, mas tendo tomado o lugar do homem, era correto que Ele devesse Se identificar com os piedosos, que estavam, assim, tomando seu verdadeiro lugar diante de Deus. Os homens de Deus nos tempos antigos tinham feito o mesmo, em princípio – Esdras e Daniel, por exemplo – confessando como se fossem seus próprios pecados, dos quais eles tinham pouca participação, embora fossem pecadores. Aqui estava o Sem pecado, e Ele o fez perfeitamente; e para que não houvesse nenhum engano, no exato momento em que Ele fez isto, os céus se abriram sobre Ele – a primeira grande manifestação da Trindade, e a voz do céu declarando que Ele era o Filho amado, em Quem o Pai encontrou todo o Seu deleite. Em forma de pomba, o Espírito desceu sobre aqu’Ele que deve batizar outros com o mesmo Espírito.