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Informações

O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS – Comentário sobre o novo testamento

F. B. Hole

Título do original em inglês: THE NEW TESTAMENT COMMENTARY – MATTHEW
Texto obtido com autorização de STEM Publishing
www.stempublishing.com

Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:

ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.
atendimento@verdadesvivas.com.br 

Primeira Edição em português – julho 2019
e-Book versão 1.0

Abreviaturas utilizadas:
ARC – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida – SBB 1969
ARA – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada – SBB 1993
TB – Tradução Brasileira – 1917
ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994
AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira – 1967
JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby
KJV – Tradução inglesa King James 

Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.

Índice

 - Capa


MATEUS 1


A redação do primeiro versículo do Novo Testamento direciona nossos pensamentos de volta ao primeiro livro do Velho Testamento, na medida em que “geração” é a tradução da palavra grega genesis. Mateus em particular, e todo o Novo Testamento em geral, é “O livro da geração de Jesus Cristo”. Quando nos referimos a Gênesis, descobrimos que o livro se divide em onze seções, e todas elas, menos a primeira, começam com uma declaração sobre “gerações”. A terceira seção começa: “Este é o livro das gerações de Adão” (Gn 5:1); e todo o Velho Testamento desvenda para nós a triste história de Adão e sua raça, terminando com o terrível uso apropriado da palavra “maldição”. Com quão grande alívio podemos passar das gerações de Adão para a “geração de Jesus Cristo”, porque aqui encontraremos a introdução da graça; e sobre essa nota o Novo Testamento termina.
Jesus é imediatamente apresentado de duas maneiras. Ele é “Filho de Davi” e, portanto, a coroa real que Deus concedeu originalmente a Davi, pertence a Ele. Ele também é “Filho de Abraão”, portanto, Ele tem o título da Terra e toda a bênção prometida está empossada n’Ele. Tendo afirmado isso, recebemos Sua genealogia, de Abraão, até José, o marido de Maria. Esta seria sua genealogia oficial, de acordo com a contagem judaica. A lista dada é notável por suas omissões, já que três reis, intimamente ligados à infame Atália, são omitidos no verso 8; e o resumo das “quatorze gerações”, apresentado no verso 17, mostra que não é uma omissão acidental, mas que Deus Se nega e Se recusa a considerar os reis que surgiram mais imediatamente dessa devota da adoração de Baal.
É notável também, que apenas os nomes de quatro mulheres são trazidos para Sua genealogia, e que esses nomes não eram tais quais poderíamos ter esperado. Dois dos quatro eram gentios, o que deve ter sido um tanto prejudicial para o orgulho judaico: ambas eram mulheres de fé marcante, embora uma delas tivesse vivido na imoralidade que caracterizava o mundo pagão. Do outro nome não sabemos nada mais o que é bom. Os outros dois nomes vieram da descendência de Israel, mas ambos os registros eram ruins, e também não sabemos nada que seja definitivamente meritório. De fato, o nome de Bate-Seba não é mencionado; ela é meramente “a que foi mulher de Urias”, proclamando assim seu descrédito. Então, novamente tudo é prejudicial para o orgulho judeu. A genealogia de nosso Senhor não acrescentou nada a Ele. No entanto, garantiu Sua genuína Humanidade, e que os direitos conferidos a Davi e Abraão eram legalmente Seus.
Mas se os primeiros 17 versículos nos asseguraram que Jesus era realmente um Homem, os versículos restantes nos asseguram igualmente que Ele era muito mais do que um Homem – exatamente o Próprio Deus, presente entre nós. Por um mensageiro angélico, José, o marido comprometido com Maria, é informado de que o futuro filho dela é o fruto da ação do Espírito Santo e que, quando nascido, Ele deve levar o nome de Jesus. Ele salvará o Seu povo dos pecados deles, portanto, o Salvador deve ser o Seu nome. Somente Deus é capaz de nomear em vista de realizações futuras. Ele pode fazer isso e quão plenamente esse grande Nome foi justificado! Que colheita de humanidade salva será colocada no celeiro nos dias por vir; todos eles salvos de seus pecados e não meramente do julgamento que seus pecados mereceram! Apenas “Seu povo” é salvo assim. Para conhecer Sua salvação, é preciso estar inscrito entre eles por fé n’Ele.
Assim foi cumprida a previsão de Isaías 7:14, onde uma indicação clara havia sido dada da grandeza e poder do Salvador que estava por vir. Seu nome profético, “Emmanuel”, indicou que Ele deveria ser Deus manifestado em carne – Deus entre nós de uma forma muito mais maravilhosa do que jamais Ele havia Se manifestado no meio de Israel, nos dias de Moisés, muito mais maravilhosa também do que a maneira com que Ele estava com Adão nos dias anteriores à entrada do pecado no mundo. Os dois nomes estão intimamente conectados. Ter Deus conosco, sem estarmos salvos dos nossos pecados, seria impossível: Sua presença apenas nos submergiria em julgamento. Ser salvo de nossos pecados, sem que Deus fosse trazido até nós poderia ter sido possível, mas a história da graça teria perdido sua principal glória. Na vinda de Jesus, temos os dois. Deus foi trazido para nós e, ao serem removidos nossos pecados, fomos levados a Ele.

MATEUS 2


Os versículos de abertura do capítulo 2 lançam uma luz forte e perscrutadora sobre as condições que prevaleciam naqueles dias entre os judeus encontrados em Jerusalém – os descendentes daqueles que haviam retornado sob Zorobabel, Esdras e Neemias. O Rei dos judeus havia nascido em Belém e ainda por semanas eles não sabiam nada sobre isso. O fato de Herodes, o rei, estar em ignorância, não era de todo surpreendente, pois ele não era israelita, mas um idumeu. Mas dentre todas as pessoas, os principais sacerdotes deveriam estar informados deste grande evento para o qual eles professamente estavam esperando – o nascimento do Messias. Em Lucas 2, encontramos que o evento foi revelado desde o céu, dentro de algumas horas no máximo, a humildes almas que temiam ao Senhor. O salmista nos disse que: “O segredo do Senhor é para os que O temem” (Sl 25:14), e isso é exemplificado nos pastores e outros; mas os líderes religiosos em Jerusalém não estavam entre estes, mas entre os “soberbos” a quem os homens chamavam de “bem-aventurados”. (Ml 3:15-16). Consequentemente, eles estavam em trevas tanto quanto o perverso Herodes.
Mas há algo pior do que isso. Não é de se surpreender, mais uma vez dizemos, que Herodes tenha ficado perturbado quando ouviu a notícia, pois aqui estava aparentemente um rival pretendente ao seu trono. No entanto, lemos que Herodes “perturbou-se, e toda Jerusalém com ele”. Portanto, o advento do Salvador não produziu júbilo, mas confusão entre as próprias pessoas que professavam estar esperando por Ele! Evidentemente, então, algo estava terrivelmente errado, já que era apenas a retratação de seus instintos pervertidos. Eles não O tinham visto; Ele ainda não havia feito nada: eles apenas sentiram que Seu advento significaria a ruína de seus prazeres em vez do cumprimento de suas esperanças.
No entanto, esses homens eram bem versados em suas Escrituras. Eles foram capazes de dar uma resposta rápida e correta à investigação de Herodes, citando Miquéias 5:2. Tinham o conhecimento que incha, e assim não sabiam nada como deveriam conhecê-lo (1 Co 8:1-2), e colocaram seu conhecimento a serviço do adversário. O “grande dragão vermelho” (Ap 12:3-5) do Império Romano, cujo poder foi investido localmente em Herodes, que estava pronto para devorar o “Filho Varão” (TB), e eles estavam prontos para ajudá-lo a fazê-lo. Eles tinham o tipo errado de conhecimento das Escrituras, e servem como um farol de advertência para nós.
A escritura que eles citaram apresenta o Senhor para nós como “O que governará” (ARF). Em Miquéias só Israel está em vista, mas sabemos que o Seu governo será universal; e esta é a terceira maneira pela qual Ele é apresentado a nós. Em JESUS vemos Deus vindo salvar. Em EMANUEL, vemos Deus vindo habitar. No GOVERNADOR, vemos Deus vindo governar. Sempre foi Seu pensamento habitar com os homens, governando tudo de acordo com o Seu prazer, e cumprir aquilo que Ele tinha vindo salvar.
Quando o Menino foi encontrado em Belém, havia o testemunho de que todas as três coisas se cumpririam e, embora Jerusalém fosse ignorante e hostil, havia gentios do oriente atraídos por Seu aparecimento, e eles reconheceram o Rei dos judeus. Será que percebemos o quão terrivelmente eles condenaram os líderes religiosos em Jerusalém? Os pastores de Lucas 2 souberam de Seu nascimento dentro de algumas horas; estes astrônomos do oriente dentro de alguns dias, ou semanas no máximo; enquanto que vários meses devem ter decorrido antes que os sacerdotes e escribas tivessem a menor suspeita do que tinha acontecido. Primeiro por uma estrela e depois por um sonho, Deus falou aos magos, mas aos religiosos de Jerusalém Ele não falou nada, e houve dias em que o sumo sacerdote no meio deles tinha estado em contato com Deus por meio de Urim e o Tumim. Agora Deus estava em silêncio para com eles. Seu estado era como é retratado em Malaquias e provavelmente pior.
Em Herodes vemos um poder inescrupuloso aliado à astúcia. Quando frustrado pela ação dos magos, ele concebeu um ataque assassino sem chances sobre as crianças de Belém. O fato de ele ter fixado o limite de isenção em dois anos indicaria que o período entre o aparecimento da estrela e a chegada dos magos em Jerusalém deve ter sido meses. Sua ação implacável e perversa trouxe o cumprimento de Jeremias 31:15. Se esse versículo for lido em seu contexto, será visto que seu cumprimento final e completo será nos últimos dias, quando Deus finalmente fará cessar o choro de Raquel, trazendo seus filhos de volta da terra do inimigo. No entanto, o que aconteceu em Belém foi o mesmo tipo de coisa em menor escala.
Herodes, no entanto, estava lutando contra Deus, que derrotou seu propósito enviando Seu anjo a José em um sonho, pela segunda vez. O Menino foi levado ao Egito, e assim Oséias 11:1 encontrou um cumprimento notável, e Jesus começou a reviver a história de Israel. Quão facilmente Deus frustrou o desígnio perverso de Herodes e, com a mesma facilidade, não muito depois, Ele lidou com o próprio Herodes. Mateus não desperdiça palavras para descrever seu fim: ele simplesmente nos diz que “morto, porém, Herodes”, pela terceira vez, o anjo do Senhor falou a José em um sonho, instruindo-o a retornar à terra porque a morte havia removido o pretenso assassino.
A primeira intenção de José evidentemente era retornar à Judéia; mas tendo chegado até José a notícia de que Arquelau sucedera seu pai, o medo fez com que hesitasse. Então, pela quarta vez, Deus o instruiu por um sonho. Assim, ele e Maria e o Jovem foram guiados de volta a Nazaré, de onde ele tinha vindo originalmente, como nos diz Lucas. É instrutivo ver como Deus guiou todos esses movimentos iniciais; em parte pelas circunstâncias, como o decreto de Augusto e as notícias sobre Arquelau; e em parte por sonhos. Assim, os esquemas do adversário foram frustrados. O “porteiro” segurou a porta aberta do “curral [aprisco – ARA] para que o verdadeiro Pastor pudesse entrar, apesar de tudo o que Ele poderia fazer. Também as Escrituras foram cumpridas: Jesus não apenas foi trazido do Egito, mas também Se tornou conhecido como o Nazareno.
Nenhum profeta do Velho Testamento predisse que Ele deveria ser chamado “Nazareno”, exatamente nessas palavras, mas mais de um disse que Ele seria desprezado e objeto de reprovação. Assim, no versículo 23, são “os profetas” e não um profeta em particular. Eles disseram que Ele deveria ser um Objeto de desprezo, que no tempo de nosso Senhor foi expresso no cognome, “Nazareno”. Na tradução de Darby – na edição com notas completas – há um comentário esclarecedor sobre este verso, como a frase exata usada em relação ao cumprimento, em contraste com a expressão anterior em Mt 1:22 e Mt 2:17; mostrando a precisão com que as citações do Velho Testamento são feitas. É uma nota que vale a pena ler[1].
Nazareno é o quarto nome dado ao nosso Senhor neste evangelho inicial. Ele é, como vimos, Jesus, Emanuel, Governador; mas Ele também é o Nazareno. Deus pode vir entre os homens para salvar, habitar, governar; mas ai de mim! Ele será “desprezado e rejeitado dos homens” (Is 53:3 – TB)



[1] N. do T.: Nota de rodapé Mt 2:23 – JND: “As passagens ‘que aquilo pudesse ser cumprido’ (cap. 1:22); ‘para que aquilo fosse cumprido’ como aqui; e ‘então foi cumprido’ (cap. 2:17)  nunca são confundidas nas citações do Velho Testamento. A primeira é o objeto da profecia; a segunda, não simplesmente seu objeto, mas um evento que estava dentro do escopo e intenção da profecia; a terceira é meramente um exemplo disso, onde o que aconteceu foi uma ilustração do que estava dito na profecia”.

MATEUS 3


O terceiro capítulo apresenta João Batista sem quaisquer preliminares quanto ao seu nascimento ou origem. Ele cumpriu a profecia de Isaías; ele pregou no deserto, longe do habitat dos homens; em roupas e alimentos, estava separado dos costumes dos homens; Seu tema era arrependimento, em vista da proximidade do reino dos céus. Foi um ministério muito singular. Que outro pregador escolheu um deserto como a esfera geográfica de seu ministério? Filipe, o evangelista, foi de fato ao deserto do sul para encontrar um indivíduo especial; mas o poder de Deus foi tal com João que as multidões se reuniram a ele e foram levadas ao seu batismo, confessando seus pecados.
Neste evangelho há uma menção frequente do “reino dos céus” e que, pela primeira vez, estava aqui. Nenhuma explicação é oferecida por Mateus, nem ele registra qualquer explicação sendo oferecida por João; a razão é, sem dúvida, que a vinda de um dia quando “o Deus do céu” deveria estabelecer um reino, e todos devem ver que “o céu reina [os céus dominam – TB], havia sido previsto no livro de Daniel. Consequentemente, o termo não seria desconhecido para seus ouvintes ou para qualquer leitor judeu. O mesmo profeta teve uma visão do Filho do Homem vindo com as nuvens do céu e tomando o reino, e os santos possuindo-o com Ele. Agora o reino estava à mão na medida em que “Jesus Cristo, Filho de Davi”, foi achado entre os homens.
Quando há uma obra genuína e poderosa de Deus, os homens não gostam de se afastar dela, especialmente se eles são líderes religiosos; consequentemente, encontramos fariseus e saduceus vindo ao batismo de João. Ele os encontrou, no entanto, com uma visão profética. Ele os desmascarou como tendo as características das víboras, e os advertiu que a ira jazia diante deles. João sabia que eles se orgulhariam de ser a própria sucessão abraâmica, então derrubou o suporte onde se apoiavam, mostrando que ela não tinha valor diante de Deus. Nada teria valor a não ser o arrependimento, e seu batismo era em vista disso; mas deveria ser genuíno e manifestar-se em frutos que fossem adequados. Tiago, em sua epístola, insiste que a fé, se for real e viva, deve se expressar em obras adequadas. Aqui João exige exatamente a mesma coisa em relação ao arrependimento.
Esses versículos na metade de Mateus 3 nos dão um vislumbre do que estava errado. O verdadeiro Filho de Davi e de Abraão tinha chegado, o reino estava próximo e nenhuma mera conexão com a sucessão com Abraão valeria. Moisés lhes dera a lei: Elias os havia chamado de volta a ela, depois de ter sido abandonada: João simplesmente emitiu um contundente chamado ao arrependimento, o que equivalia a dizer: “Com base na lei você está perdido e nada resta senão para você honestamente se apegar ao arrependimento com humilde tristeza de coração”. Mas, para sua ruína, a grande massa deles não estava preparada para isto.
João também anunciou a vinda daqu’Ele que é Poderoso, e de Quem João era o precursor. Não havia comparação entre eles, e ele confessou seu sentimento dizendo que não estava em condições de sequer levar Suas sandálias dos pés. Ele também contrastou seu próprio batismo com a água e o batismo com o Espírito Santo e fogo. A vinda daqu’Ele Grande exerceria discriminação perfeita, peneirando o trigo do joio. O trigo Ele batizará com o Espírito Santo e o joio com o fogo do julgamento; e as questões serão eternas porque o fogo será inextinguível.
Estas palavras de João devem ter sido tremendamente indagadoras e serão cumpridas quando a era milenar estiver prestes a ser introduzida. Então o Espírito será derramado sobre toda a carne, e não somente o judeu – isto é, sobre todos os que foram redimidos. Por outro lado, os ímpios serão banidos para o fogo eterno, como o final do evangelho de Mateus, no capítulo 25 nos mostrará. Enquanto isso houve um cumprimento antecipado do batismo do Espírito, no estabelecimento da Igreja, como mostra Atos 2. O contexto aqui decisivamente revela que o “fogo” é uma alusão ao julgamento, e não às línguas de fogo no dia de Pentecostes, ou qualquer ação similar de bênção.
Quando Jesus veio para o Seu ministério, Seu primeiro ato foi vir ao batismo de João, apesar da objeção que João expressou. A objeção serviu para revelar o princípio sobre o qual o Senhor estava agindo. Ele estava cumprindo a justiça. Ele não tinha pecados para confessar, mas tendo tomado o lugar do homem, era correto que Ele devesse Se identificar com os piedosos, que estavam, assim, tomando seu verdadeiro lugar diante de Deus. Os homens de Deus nos tempos antigos tinham feito o mesmo, em princípio – Esdras e Daniel, por exemplo – confessando como se fossem seus próprios pecados, dos quais eles tinham pouca participação, embora fossem pecadores. Aqui estava o Sem pecado, e Ele o fez perfeitamente; e para que não houvesse nenhum engano, no exato momento em que Ele fez isto, os céus se abriram sobre Ele – a primeira grande manifestação da Trindade, e a voz do céu declarando que Ele era o Filho amado, em Quem o Pai encontrou todo o Seu deleite. Em forma de pomba, o Espírito desceu sobre aqu’Ele que deve batizar outros com o mesmo Espírito.


MATEUS 4




Jesus não estava apenas tomando o lugar do homem, Ele estava mais particularmente assumindo o lugar de Israel. Israel foi chamado desde o Egito, então eles foram batizados a Moisés na nuvem e no mar, então entraram no deserto. Acabamos de ver Jesus como o Filho de Deus chamado desde o Egito, e agora Ele é batizado; então, ao abrirmos o capítulo 4, encontramos o Espírito que havia descido sobre Ele O conduzindo diretamente ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Aqui encontramos um contraste, pois no deserto, Israel tentou Deus e falhou em tudo. Jesus foi tentado e triunfou em tudo.
No entanto, as tentações com as quais o diabo O assaltou eram semelhantes às provas de Israel no deserto, pois nada há de novo nas táticas do adversário. Israel foi testado pela fome e pela rebelião em conexão com as coisas de Deus – vista mais particularmente em conexão com Coré, Datã e Abirão – e por atrações que poderiam levá-los a adorar e servir a outro além de Jeová, e eles caíram, adorando o bezerro de ouro. Jesus refutou cada tentação com a Palavra de Deus. Em cada ocasião, Ele citou uma pequena porção do livro de Deuteronômio, em que Israel é lembrado de suas responsabilidades. Nessas responsabilidades eles falharam e Jesus as cumpriu perfeitamente em todos os aspectos.
O diabo sempre semeia dúvidas da Palavra Divina. Compare os versículos 3:17 com o 4:3, 6 de Mateus e observe como isso é impressionante. Tão logo Deus disse: “Este é o Meu Filho amado”, o diabo diz duas vezes: “Se Tu és o Filho de Deus”. A pequena palavra “se” é uma grande favorita do diabo! Jesus o enfrentou apropriadamente com a Palavra de Deus. Essa Palavra é tão indispensável para a vida espiritual do homem, como o pão é para sua vida natural. E o homem precisa de cada palavra que Deus falou, e não apenas algumas passagens especiais.
Todos nós estamos encontrando nossa vida espiritual em “toda Palavra que sai da boca de Deus”?
A tentação de Jesus pelo diabo deixa claro, além de qualquer dúvida, que o diabo existe em pessoa. Desde os dias de Gênesis 3, ele estava acostumado a seduzir os homens apelando para suas concupiscências e orgulho. Em Jesus, ele encontrou aqu’Ele que não tinha concupiscência nem orgulho, e que resistiu a todos os seus ataques pela Palavra de Deus; derrotado consequentemente, ele teve que deixá-Lo. Seu conquistador era um verdadeiro Homem, que jejuara quarenta dias e quarenta noites, e os anjos ministravam a Ele. Eles nunca haviam servido seu Deus dessa forma maravilhosa.
Ao ser João lançado na prisão, como o versículo 12 nos mostra, esse evento levou o Senhor a entrar plenamente em Seu ministério público. Deixando Nazaré, Ele assumiu Sua morada em Cafarnaum, e a profecia de Isaías encontrou seu cumprimento, em todos os aspectos, em relação ao Seu primeiro advento. Se lermos a passagem (Is 9:1-7), notaremos que ambos os adventos estão em vista, como frequentemente é o caso. Sua vinda brilhou como uma estrela diante dos profetas, mas eles ainda não sabiam que era uma estrela dupla. A Galileia ainda verá a grande luz de Sua glória, assim como eles viram a grande luz de Sua graça. O precursor foi silenciado pelo aprisionamento, Jesus assumiu e compeliu Sua mensagem de arrependimento em vista do reino estar próximo. O evangelho de João nos mostra que o Senhor estava ativo no serviço antes desta época. Ele tinha discípulos e visitou a Judeia quando “ainda João não tinha sido lançado na prisão” (Jo 3:24).
Sendo assim, o chamado de Pedro, André, Tiago e João não foi o começo de seu conhecimento d’Ele. Isso veio antes e está registrado em João 1. Evidentemente também houve ocasiões em que eles ou outros discípulos foram ter com Ele antes de serem definitivamente chamados a deixar suas ocupações seculares e entregar todo o seu tempo a Ele. Ao segui-Lo, esses pescadores seriam feitos pescadores de homens. Por meio de diligência e estudo, homens podem se fazer bons pregadores, mas pescadores dos homens só são feitos por Ele. Ele era Supremo nisto em Si mesmo e andando em Sua companhia, eles aprenderiam d’Ele e captariam Seu espírito.
Nos três versículos que encerram o capítulo 4, Mateus resume os primeiros dias de Seu ministério. Sua mensagem era “o evangelho do reino”. Deve ser distinguido do “evangelho da graça de Deus”, que está sendo pregado hoje. Isto tem a morte e ressurreição de Cristo como seu grande tema, e anuncia o perdão como o fruto da expiação que Ele fez. Essas eram as boas-novas que o reino, predito pelos profetas, estava agora trazendo para eles por meio d’Ele. Se eles se submetessem à autoridade divina que estava investida n’Ele, o poder do reino estaria ativo em favor deles. Como prova disso, Ele mostrou o poder do reino ao curar os corpos dos homens. Todo tipo de mal físico e doença foi removido – a garantia de que Ele poderia curar todo mal espiritual. Essa demonstração do poder do reino, juntamente com a pregação do reino, mostrou-se muito atraente e grandes multidões O seguiram.